Raquel 28/12/2022As meninas de Lygia Fagundes TellesNos anos 70, durante a ditadura militar, três amigas vivem num pensionato de freiras católicas: Lorena, estudante de Direito de família rica, de comportamento guiado sobretudo pelo ideal romântico; Lia, subversiva militante de esquerda que estuda Ciências Sociais; Ana Clara, linda estudante de psicologia, assombrada pelo passado marcado por abusos sexuais e pelo presente dominado pelo uso de drogas. As três não são nada parecidas, mas através de seus pensamentos é possível perceber o quanto traumas, medos, angústias e sentimentos fortes em torno do amor, da amizade e da saudade mantém essas três unidas por laços inexplicáveis. Por meio das vozes de Lorena, Lia e Ana Clara, são colocados em pauta assuntos até hoje polemizados, como a emancipação sexual feminina, a homossexualidade, o uso de drogas e o papel do militarismo dentro do Estado. A autora questiona os tradicionais estereótipos que recaem sobre o sexo feminino.
O livro é intimista, explorando a psicologia feminina. O foco narrativo em primeira pessoa desloca-se para o fluxo de consciência de cada uma das personagens. O enredo se dilui no fluxo de consciência das personagens, que, de uma maneira ou de outra, vivem o presente, vivem os seus medos e seus fantasmas, relembram o passado. Todas buscam um futuro que ainda é incerto, vivem sob a sombra do medo, do isolamento e a angústia, como os indivíduos do mundo contemporâneo.
Não é uma leitura fácil, o fluxo de consciência e a mudança de narrador confundem em muitos momentos, mas gostei muito e acredito ser um livro que deve ser lido várias vezes, para que se desvende as mensagens que a autora deixou nas entrelinhas....
“Para que eu seja assim inteira (essencial e essência) é preciso que não esteja em outro lugar senão em mim”.