anahelena.blasilemos 28/08/2023
O CEMITÉRIO DE PRAGA – de Umberto Eco
Se eu fosse perguntada sobre quais os personagens mais odiosos que encontrei nos livros eu não hesitaria em incluir na lista o capitão Simone Simonini, protagonista deste livro.
E como ele acumulava personalidade dupla e incorporava o abade Dalla Picolla, consegue ser duplamente odioso.
Nele, só transparece um pouco de bons sentimentos pela gastronomia e talvez por seu avô.
Odiava tudo o mais, desde mulheres, judeus, maçons, jesuítas, comunistas e monarquistas, franceses e alemães.
E a humanidade inteira e o mundo inteiro.
Sem ficar vermelho, ele ludibriava, traía, dissimulava, mentia, fraudava, ma-ta-va.
Bem, o que mais esperar de uma pessoa que escolhe a ‘profissão’ de FALSÁRIO?!?
A escrita de Umberto Eco apresenta uma tradicional barafunda interativa entre personagens ficcionais e históricos, os de mentirinha misturados com os de verdade, sejam políticos, clericais, literatos, musicistas, psicanalistas, italianos, franceses, alemães, russos.
É uma enorme aula de História estilizada aos moldes de Eco onde quimera e realidade se intercalam e sobrepõem, com encontros improváveis mas sugestivos, por exemplo com Freud, Garibaldi ou Dreyfus, miscelânea interessante.
Tudo é jogo de poder.
O complô político/religioso no Cemitério de Praga é um compêndio de ambição, vaidade, pretensa superioridade, ânsia de dominação e considera-se que se baseia nos conhecidos documentos intitulados Protocolos dos Sábios do Sião.
Mas como o próprio autor dizia, ‘basta falar algo para que esse algo passe a existir’.
Olhe as Fake News aí, gente!!!
PERSONAGENS: Capitão Simone Simonini ou abade Dalla Picolla.
CITAÇÃO: “O documento, para convencer, deve ser construído ‘ex novo’, e, se possível, não convém mostrar o original, mas falar por ouvir dizer, de tal modo que não se possa remontar a alguma fonte existente, como aconteceu com os Reis Magos, dos quais somente Mateus falou, em dois versículos, e sequer disse como se chamavam, nem quantos eram ou se eram reis, e todo o resto são afirmações tradicionais. No entanto, para as pessoas, eles são tão verdadeiros quanto José e Maria, e sei que em algum lugar se veneram seus corpos”.