Lucas 08/01/2012
Espionagem, mortes, misticismo, ocultismo em fins do séc. XIX
Com seu inconfundível estilo místico e ocultista, Eco está de volta esbanjado seu já consagrado intelecto, mas agora ele está mais comedido. Diferente de outras obras do autor, Eco poupa o leitor de grandes citações em latim ou grandes descrições, caso dos Rosa Cruzes e templários em O Pendulo de Foucault ou dos concílios e linhas filosóficas católicas em O Nome da Rosa.
Em O Cemitério de Praga o autor recria uma Europa em fins do sec. XIX, agitada pelo antissemitismo e pelo movimento de unificação italiano, retrata uma Paris fervilhante, com atentados contra o governo de Napoleão III até pormenores arrepiantes da comuna de Paris. Entretanto, o leitor viverá tais eventos pelos olhos do bastidor Capitão Simonini, um informante e facilitador do serviço secreto francês, uma espécie de agente secreto, como o próprio personagem gosta de se definir, e um grande conhecedor de culinária (sim, o leitor ficará com fome na leitura do livro, isso se entender exatamente o prato sofisticado que o personagem está descrevendo, algo que, de fato, me escapou muito).
Simonini mergulhará no submundo parisiense para obter informações (ou criá-las), aproximando-se, através de engenhosos disfarces, de grandes personalidades de seu tempo, como Joly, Flaubert ou mesmo Freud, ou explorando os famosos esgotos de Paris, escondendo corpos ou tropas governistas...
Com uma trama envolvente, o leitor mergulha nos bastidores de grandes eventos que chacoalharam a Europa, tornando-se o pivô de vários acontecimentos, através de tramas internacionais e, principalmente, missas negras, complôs e assassinatos.
Creio que os estudantes universitários não conterão sorrisos ao ler sobre uma das missões de Simonini: criar uma revolução de estudantes. Para tanto, ele coloca a polícia dentro da Sorbonne, alguma semelhança com algum evento recente? Um trecho fantástico que forçará o leitor, como em toda a estória de O Cemitério de Praga, a meditar sobre o que está lendo e sobre a atualidade.
Prima facie, a obra soa deverás preconceituosa, o personagem principal é um recorte dos pensamentos mais perversos e, digam-se populares, de sua época e, como diria o próprio Umberto Eco: “(...) em uma palavra, ele ainda está entre nós.”
Entretanto, creio que muito do desenrolar da obra careceu de alguma originalidade, vez que, para os leitores de outras obras de Eco, principalmente O Pendulo de Foucault, perceberá uma certa semelhança irritante da metade do livro em diante e, de certa forma, o próprio argumento principal de toda a trama se assemelha em muito com a referida obra pretérita do autor, a qual eu particularmente prefiro: O Pêndulo de Foucault.
A obra de Umberto Eco não é algo que desperte no leitor um entendimento direto, muito menos simpatia imediata, não se trata de um Dan Brown que conquista o leitor com a primeira página através de uma trama que esbanja mistério. Eco traz uma obra com uma trama invejável, mas traz discussões filosóficas, traz fluxos de pensamento e descrições pormenorizadas que rapidamente o distinguem de simples tramas policiais. Recomendo a leitura para aqueles que realmente buscam uma leitura mais densa que o normal, ou mesmo estão querendo conhecer o autor!