Paulo Sousa 07/04/2019
Como curar um fanático, de Amós Oz
Título lido: Como curar um fanático
Título original: How to Cure a Fanatic: Israel and Palestine - Between Right and Right
Autor: Amós Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras
Anos de lançamento: 2004
Ano desta edição: 2016
Páginas: 104
Classificação: 3.5/5
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"A batalha entre judeus israelenses e árabes palestinos não é uma guerra religiosa por essência, embora os fanáticos em ambos os lados estejam tentando com grande empenho transformá-la numa guerra religiosa. É um embate entre o certo e o certo, entre duas poderosas, muito convincentes reivindicações do mesmo e pequeno país" (Posição no Kindle 71%).
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Em tempos polarizados, onde está mais que insurgente no Brasil uma odorenta atmosfera de intolerância e ódio, viralizada pela Internet principalmente, foi bom ter encontrado este pequeno livro, uma leitura mais que apropriada para estes tempos tenebrosos.
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Amós Oz, autor israelense falecido recentemente, é dono de uma notável obra literária, cujos livros, belos e engajados, sempre apontam para o caminho da tolerância e para a possibilidade de uma coexistência pacífica. Sua escrita simplória mas cheia de semânticas que tocam o leitor, flertam com a prosa poética, tamanha é a força de suas frases. Dele li "Cenas da vida na aldeia", coletânea de contos e, mais recentemente, o excelente "A caixa preta", um romance epistolar sobre o embate entre um casal que, uma vez separado, discutem a relação por meio de uma profusa correspondência.
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"Como curar um fanático" reúne três palestras dadas pelo autor, um apenso aos Acordos de Genebra, além de uma entrevista concedida pelo autor. A temática gira sempre em torno da questão do fanatismo, onde Oz aponta possíveis soluções para se repensar o fanatismo dentro do ponto de vista dos envolvidos - e não pela visão europeizada vigente. Além disso, Oz, em sua fala, defende soluções viáveis para promover a coexistência entre palestinos e israelenses, duas das nações mais complexas do mundo.
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Apesar de curto, este é um livro que faz pensar. Na sua exposição do que é e como nasce um fanático, Amós Oz aborda esta questão tão complexa com uma simplicidade notável. Para ele, autor consagrado de livros belos e profundos, uma das saídas para a "cura" do fanatismo estaria na própria literatura, remédio disponível para todos e amplamente acessível. De qualquer forma, o livro se agiganta como um manifesto em prol da conscientização de que é possível viver junto sem haver agressão, que na visão de Oz, é o motivo primevo para a eclosão das guerras. Uma bela aula sobre como se pode defender seu ponto de vista sem agredir a quem possua opinião contrária. Vale!