Portal Caneca 01/08/2014
Sabe-se muito pouco sobre a origem do universo. Segundo algumas teorias, houve um tempo em que o universo estava dividido em duas províncias: o reino do Caos, representado por Tehom, e o domínio da Lei, representado por Yahweh. Em determinado momento Yahweh e Tehom entraram em guerra, então Yahweh criou seus 5 arcanjos para ajudá-lo na batalha: Miguel, o Príncipe dos Anjos; Lúcifer, a Estrela da Manhã; Rafael, a Cura de Deus; Gabriel, a Força de Deus; e Uziel, o Marechal Dourado.
Com a batalha vencida, Yahweh passa a criar todo o universo como conhecemos (ou desconhecemos). No Primeiro Dia, surgem o tempo e a matéria. No Segundo acontece o Big Bang, surgem a luz, as dimensões paralelas e os anjos. No Terceiro formam-se as estrelas e galáxias, luz e escuridão se separam, os 7 Céus são criados. No Quarto Dia surgem o Sol, o sistema solar e a Terra. No Quinto conhecemos as primeiras formas de vida. No Sexto temos os primeiros hominídeos. No Sétimo Dia Yahweh entra em descanso, e esse dia se estende até hoje no tempo da Terra. O céu entra em guerra. Miguel, o maior arcanjo, tem inveja dos humanos por terem a divindade da alma, e quer exterminá-los, ao passo que Gabriel tenta protegê-los. Esses dois generais convocam seus anjos, divididos em castas de acordo com suas habilidades, para a guerra e, eventualmente, alguns descem a Terra para realizar missões especiais.
É neste univeso fantástico que se passa Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida, segundo livro escrito por Eduardo Spohr. O livro acontece paralelamente a história de seu primeiro, A Batalha do Apocalipse, com personagens comuns aos dois livros sendo apenas mencionados muito pontualmente e sem maior relação com a história deste livro, ou seja, não há uma necessidade de ter lido o primeiro livro para seguir ao segundo.
Em Filhos do Éden acompanhamos Kaira, Centelha Divina, uma ishin (anjos elementais) do fogo, que desce a Terra para realizar uma missão, mas é capturada no meio dela e perde a memória de alguma maneira. Somos então apresentados a mais 3 anjos que formam uma equipe para realizar a missão inicial, relacionada a cidade de Atlântida, de qualquer maneira, Levih, o Amigo dos Homens, um ofanim (anjo da guarda); Urakin, o Punho de Deus, um querubim (anjos guerreiros) e Denyel, um querubim exilado.
Fora toda a mitologia presente no texto de Spohr, que passa por anjos, demônios, deuses pagãos, o livro tem um nível de detalhamento histórico e espacial perfeitos. As descrições de cenários são incríveis, detalhadas, criando laços fáceis para nós brasileiros, e a pesquisa histórica torna essa guerra muito mais complexa e aprofundada com o mundo humano. Descrições de armas, momentos da Primeira Guerra Mundial, tudo é feito com cuidado. Outro ponto alto é a profundidade dos personagens. Cada um tem suas características bem definidas, e vão evoluindo ou se mostrando mais ao longo do livro, criando uma aproximação muito maior com o leitor, Denyel passa de inconsequente a herói, sempre misterioso, e cada revelação o torna mais profundo ainda, e Kaira nos mostra as dádivas de ser um humano e ter toda a sua complexidade sentimental.
Com uma narrativa fluida, diálogos bem feitos e cenas de lutas com proporções épicas em vários momentos, Filhos do Éden é um livro indispensável para quem aprecia mundos fantásticos, e mostra todo o poder da literatura fantástica nacional, abrindo caminho para várias novas produções aqui no país.
“O cosmo é como um grande deserto, e o mundo não é diferente. Cada um deve decidir por si mesmo. Se homens e anjos estão se matando, não é a Yahweh que devemos culpar”
Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida é escrito por Eduardo Spohr e distribuido pela editora Verus.
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