Leandro.Santana 29/12/2023
A Peste - Albert Camus
O livro “A Peste” foi publicado em 1947, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial. A história retrata uma epidemia na cidade argelina de Oran. Camus teria se inspirado em uma epidemia de cólera que ocorreu naquela cidade, no século XIX, mas também nas escolhas éticas feitas pelos franceses durante a ocupação nazista.
O fato é que diante de uma epidemia bacteriana ou virótica, ou do jugo de um regime autoritário, as pessoas se veem diante de escolhas difíceis, nas quais os valores morais individuais e da sociedade se revelam como nunca.
Gostei muito de um trecho da crítica publicada por Marina Warner no The Guardian, que reproduzo abaixo:
“Repetidamente, Camus invoca alguma condição de bem-estar que foi perdida, porque a pestilência se instalou. Isolados na cidade da peste, perdem-se as amarras dos amores e valores passados: "Eles experimentaram o sofrimento profundo de todos os prisioneiros e de todos os exilados, que é viver com uma memória que não serve para nada." Isolados e maculados, os habitantes sofrem a quebra de todos os laços sociais; todo o tempo se torna presente e apaga a esperança (no futuro) e o amor (com sua conexão com o passado). Mas o quebra-cabeça central com que Camus se preocupa chega no final do romance, com a célebre pergunta de Tarrou: "Alguém pode ser santo sem Deus?" Ao que o Dr. Rieux responde: "Heroísmo e santidade não me atraem realmente ... O que me interessa é ser um homem.”"
E o que é ser um homem, neste caso? Camus responde “os homens são mais bons que maus, e na verdade a questão não é essa. Alguns ignoram mais outros menos, e é a isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância, que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar. A alma do assassino é cega, e não há verdadeira bondade nem belo amor sem toda a clarividência possível”.