ivnachaib 09/11/2023
Um fechamento para a pandemia.
"Tudo o que o homem pode ganhar no jogo da peste e da vida é o conhecimento e a memória."
Depois de devorar O Estrangeiro, achei que ler A Peste seria uma continuação apropriada, e eu o achei lindamente escrito desde o início. A delicadeza de Camus na escolha das palavras já havia chamado minha atenção anteriormente, mas ele leva isso a outro patamar nessa obra.
Embora, na minha perspectiva, a estratégia de começar uma história com ênfase descritiva tenda a levar a um excesso de informações supérfluo e monótono, não vemos nada disso na forma como o autor tece a sua análise tanto da cidade como dos seus habitantes. Na verdade, foi exatamente esse aspecto que primeiro me fisgou.
Através da história de como a peste condenou à morte os cidadãos de Oran, somos apresentados a uma história sobre a vida e, mais especificamente, sobre como escolhemos viver. Seria, portanto, uma leitura pertinente em qualquer circunstância, mas sinto que se revelou muito mais surpreendente depois de ter vivido a pandemia que, em muitos aspectos, se assemelhou ao que Camus narrou de uma forma muito mais profunda que eu poderia imaginar.
Sempre ouvi que a história é cíclica e, ao ler este livro, pude realmente perceber isso. É ao mesmo tempo estranho e fascinante pensar que um autor de outra nacionalidade e século seria capaz de relatar com fidelidade o que aconteceu em termos políticos, de saúde, sociais e existenciais algo que vivi agora há pouco. E acho que foi uma boa maneira de efetivamente encerrar esse momento.
No entanto, a narrativa fica um pouco lenta no meio e achei difícil me relacionar com os personagens principais durante a maior parte dela, o que foi um pouco decepcionante. Por outro lado, gostei muito da forma como o livro nos apresenta muitas perspectivas, evitando tratar de uma experiência particular, bem como da referência subtil ao caso de Meursault e do acontecimento na cena da companhia de ópera interpretando Orfeu e Eurídice. Esse trecho me lembrou um pouco de A Máscara da Morte Rubra, que eu adoro.
Em suma, a obra tem seus altos e baixos mas é uma leitura encantadora, necessária e interessante.