A peste

A peste Albert Camus




Resenhas - A Peste


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Fernando Lafaiete 06/08/2020

A Peste: De quem é a culpa?
*****************************NÃO contém spoiler******************************
Resenha postada no site https://www.mundodasresenhas.com.br/

A quem devemos culpar pelas mortes que ocorrem, pelos medos e incertezas infindáveis e pelo constante processo de negação que alimentamos dia a dia? Deus ou a nós mesmos, meros mortais que insistimos em nos comportamos como se fôssemos inatingíveis? "A Peste", obra-prima escrita e lançada em 1947 pelo escritor franco-argelino Albert Camus, incomoda, nos confronta e nos obriga a encararmos nossas incertezas diante do medo que sentimos da morte. Muito mais do que uma obra a ser lida no atual momento que enfretamos, o clássico de Camus trata-se de uma narrativa alegórica, direta e real que possui profundidade em suas camadas psicológicas e políticas, dialogando com o momento atual, ao mesmo tempo que traz à tona questões sobre humanidade, fé e esperança, despertando uma importante questão que todos deveriam refletir a respeito. Quem somos nós diante do desconhecido?

Com frases emblemáticas, questionamentos religiosos e uma ambientação claustrofóbica, o referido clássico se desenvolve de forma direta, verossímil e tangível, dialogando com a realidade de forma tão visceral que em alguns momentos me foi sufocante prosseguir com a leitura. Nos colocando na realidade ficcional da pequena cidade de Orã na Argélia, o autor nos imergi em uma narrativa assustadora, em que ratos começam aos montes a morrer de forma misteriosa, espalhando uma doença fatal entre os habitantes, dando assim, vida à uma epidemia. Entre processos de autonegação, dúvidas, medos e certezas, acompanhamos situações tão absurdamente parecidas com as que vemos atualmente, que seria cômico se não fosse trágico. Enquanto o número de mortes aumenta a cada virar de páginas, vemos a evolução narrativa com descrições incômodas de personagens se reunindo em "bares" (para comemorar sabe-se lá o que), o governo perdido sem saber como exatamente reagir, divulgações de números de mortes sendo realizados com a intenção manipulativa de atenuar a situação, e personagens tentando encarar tal tragédia como algo passageiro e sem grande importância. Vivemos a ficção em sua forma bruta ou na verdade estamos apenas em alguma obra ficcional de Albert Camus? Eu adoraria acreditar na segunda opção.

"[...] a partir do quarto dia, os ratos começaram a sair para morrer em grupo. Dos porões, das adegas, dos esgotos, subiam em longas filas titubeantes, para virem vacilar à luz, girar sobre si mesmos e morrer perto dos seres humanos. À noite, nos corredores ou nas ruelas, ouviam-se distintamente seus guinchos de agonia. De manhã, nos subúrbios, encontravam-se estendidos nas sarjetas com uma pequena flor de sangue nos focinhos pontiagudos; uns inchados e pútridos; outros rígidos e com bigodes ainda eriçados. Na própria cidade, eram encontrados em pequenos montes nos patamares ou nos pátios."

***

"[...]O aumento, pelo menos, era eloquente. Mas não era bastante forte para impedir que nossos concidadãos, em meio à sua inquietação, tivessem a impressão de que se tratava de um acidente, sem dúvida desagradável, mas, apesar de tudo, temporário. Continuavam assim circular nas ruas e a sentar-se às mesas dos cafés. No conjunto, não eram covardes; trocavam mais gracejos que lamúrias e aparentavam aceitar com bom humor inconvenientes evidentemente passageiros."

Considerado a grande obra-prima em que uma epidemia é abordada, "A Peste" se desenvolve com uma linguagem simples, com bons personagens, com uma narrativa fácil de ser assimilada e com bons diálogos e situações. Mesmo que não seja considerado o melhor livro do autor, não há dúvidas de que o aclamado romance é de um alto nível literário, se fazendo necessário em qualquer momento da vida. Considerado uma metáfora crítica contra governos totalitários, o clássico supracitado atinge seus objetivos narrativos, se provando como uma obra profunda sobre a humanidade em si. Que a morte a todos espera, isso já sabemos. Mas a quem devemos atribuir a culpa de tão desconfortável verdade quando ela surge diante de uma epidemia/pandemia? Se a Deus negamos odiar, então só resta a nós carregarmos tamanho peso?

Em certo momento do romance, o autor através do narrador faz a seguinte afirmação: "[...] E sabia também, que viria o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz." Ah Camus, como eu gostaria que você estivesse errado e que isso não passasse de uma simples citação literária. Para que serve tamanho sofrimento? Para nos confrontramos, nos conhecermos e aprendermos sobre a importância da vida e daqueles a quem convivemos? Seja na ficção ou na vida real, a verdade é que algo vamos aprender. O que exatamente? Isso só o tempo dirá. Se for para carregarmos alguma culpa, que seja de queixo erguido e com fé que tudo irá melhorar. Que entre lágrimas e sorrisos daqueles que ficarem, que um novo mundo se ergua e que mesmo diante das pestes que venham a surgir, que nunca desistamos de lutar.
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Felipe 12/08/2021

A Peste
Não poderia ter lido A Peste num momento diferente. É irônico e infeliz como uma obra produzida em 1947 reflete a atualidade. Diferente do que dizem, a obra não "é sobre" a Segunda Guerra Mundial. É sobre a atitude humana e o absurdo natural frente a qualquer catástrofe. De uma doença devastando famílias, corpos sendo enterrados aos montes sem possibilidade de cerimônia, a indivíduos irresponsáveis que colocam seus prazeres acima do bem comum, Oran não se diferencia da Terra em 2020/21. Fazer uma resenha é quase repetir o que todos já presenciamos nos últimos dois anos.
Camus aproveita para pincelar a trama com sua filosofia do absurdo. A impotência dos cidadãos perante a morte e ainda assim a força para lutar. Deixando clara sua ideia, abordada em obras anteriores, do ?Sísifo feliz? por ter um objetivo, mesmo que inalcançável. Sísifo aqui representado pelos protagonistas Rieux (o médico), Cottard (homem que já tentou suicídio), Paneloux(o padre) e outras figuras que, muito além de qualquer alegoria, tem histórias que funcionam perfeitamente sozinhas. Uma obra sufocante e com um toque de mistério cercando alguns personagens. Torcemos por eles como torcemos por nós.
///...Porque ele sabia o que essa multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada. E sabia, também, que viria talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz./// Nós somos a cidade. A Peste acordou.
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Thales 13/04/2021

Parem
Imediatamente tudo o que vocês estão fazendo e tirem esse livro pra dançar. A sua vivência da pandemia vai ser completamente ressignificada depois da leitura.
Carolina.Gomes 14/04/2021minha estante
N li pq fiquei c medo, mas estou tão envolvida pela narrativa se Camus q vou ler.


Thales 14/04/2021minha estante
Acho que sua experiência vai ser ainda melhor por ter lido o Mito de Sísifo antes, Carol


Carolina.Gomes 14/04/2021minha estante
Já vou emendar kkkk


Thales 14/04/2021minha estante
Aproveitar o embalo kkkkk




Well 31/12/2022

Pandemia? Que fase hein?
A história é centrada no médico Bernard Rieux, e em sua rotina que varia entre visitas a doentes, atendimento no hospital e as relações com sua mulher doente e sua mãe idosa. Mas algo estranho começa a acontecer: ratos aparecem mortos em todos os cantos da cidade. Contudo, esse fato passa despercebido pelos cidadãos.
Entretanto, num dia comum, Bernard é chamado as pressas na casa de um homem que sofre com uma terrível febre, com inchaço nos gânglios e manchas vermelhas por todo o corpo. A possibilidade da doença desse homem ser peste era nula, mas o desenrolar dos fatos, das mortes dos ratos e do aumento dos casos de febre levanta essa opção e Bernard é chamado pelas autoridades para participar do comitê que decidirá quais medidas deverão ser tomadas. Logo fica confirmado que a famosa peste bubônica, que assolou a Europa na idade média matando um terço da população, estava de volta e com força total.
As primeiras medidas foi a quarenta. Fechando a cidade e porto, e tudo muda. Os cidadãos assolados por uma doença altamente agressiva e transmissível ainda precisam conviver com o isolamento do mundo, alguns conseguem, outros não. As medidas sanitárias se tornam supérfluas diante do aumento expressivo no número de mortos. Todos estão na mira da peste e a escassez do álcool torna tudo mais difícil.
O autor, foi uma gênio nas descrição do clima da cidade, com uma profundidade peculiar. O clima se envolve com o mudar da população. E claro, também tem atenção especial aos personagens, Bernard, é o principal e narrador-espectador da história, e muito mais do que um médico é um amigo. Contudo, a doença suga todas as suas forças e a indiferença diante da eminência da morte se apodera dele com fervor. E ainda há Rambert, um jornalista estrangeiro que fica preso na cidade, mas acaba se compadecendo dos doentes e fica até o final. Além de vários outros personagens que servem como exemplos para mostrar como ficou o sentimento das pessoas. Camus apresenta o sentimentos dos personagens em longas passagens super fluída.
É um livro muito bom, extremamente profundo e cheio de nuances. Uma história que confirma o meu pensamento de que as leituras que fazemos dizem muito mais sobre nós. Humanos.
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Vitor Y. 07/06/2021

Aos covardes
Primeira obra do Camus que leio. Que obra estupenda. Como não pensar nos tempos de isolamento que estamos vivendo?

Destaco a conversa do médico Rieux ao comentar sobre a ideia de castigo coletivo que o padre Paneloux propagou na igreja:

"[A Peste] Pode servir para engrandecer alguns. No entanto, quando se vê a miséria e a dor que ela traz, é preciso ser louco, cego ou covarde para se resignar à peste."

Enquanto tantos banalizam a morte ("é uma gripezinha"), hão de resistir aqueles que se mantêm próximos à humanidade.
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Pedro.Assis 15/10/2020

Para refletir sobre as nossas Pestes
Em tempos de pandemia, em um governo autoritário, corrupto e irresponsável, A Peste de Camus é assustadoramente atual e necessária.
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Rodrigo1001 03/03/2024

Somos instantes (Sem Spoilers)
Título: A Peste
Título original: La Peste
Autor: Albert Camus
Editora: Record
Número de páginas: 288

Há quase 70 anos, proferiu em discurso o franco-argelino Albert Camus: "Cada geração é, sem dúvida, chamada a reformar o mundo. A minha sabe que não vai reformá-lo, mas sua tarefa talvez seja ainda maior. Consiste em evitar que o mundo se destrua."

Naquele dezembro de 1957, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, o filósofo disse que um escritor jamais poderia estar à mercê daqueles que fazem a história, e sim a serviço daqueles que são afetados por ela. Em uma época pós pandemia de Covid-19, o engajado e contestador Camus ressurge como alegoria perfeita para este tempo presente tão absurdo com um dos seus livros mais famosos, A Peste, uma crônica sobre uma epidemia que ameaça dizimar uma cidade.

Dividido em cinco partes, a contemporaneidade deste livro impressiona já nas primeiras páginas, catapultando-nos do passado ao presente. Em todas as páginas, Camus joga com o absurdo da situação provocada pela peste para mostrar o absurdo da própria condição de existir neste mundo.

Narrado do ponto de vista de um médico envolvido nos esforços para conter a doença, a obra ressalta a solidariedade, a solidão, a morte e outros temas fundamentais para a compreensão dos dilemas do homem moderno e da alteridade. Sendo o absurdo o ponto claro de partida das reflexões que propõe no enredo, Camus, em sua genialidade, teceu um aparato literário de forte densidade filosófica, fundamentado sem o hermetismo típico de um Jean-Paul Sartre, por exemplo.

Construindo lentamente sua trama, o escritor chega à futilidade que o tédio traz, à sensação de abandono que a distância forçada do tempo faz ressoar na alma, como se a peste fosse apenas aquele empurrãozinho final para chegar à beira do abismo, abandonando as máscaras de qualquer tipo de esperança, de felicidade, de fraternidade, expondo a grande mentira que assola a humanidade, imprimindo-lhe sua verdadeira face purpurinada de egoísmo e falsidade.

É duro de ler.

Mas, ao mesmo tempo, é belo.

Dito isso, qualquer comentário adicional colocaria em risco a regra de spoiler zero das minhas resenhas. Assim, prefiro deixá-lo, caro amigo, com uma profunda vontade de pôr suas mãos nesse livro e deliciar-se - sozinho, já que A Peste é em si, uma obra que transpira solidão - com a genialidade de um dos autores mais emblemáticos da história da literatura. Acredite, valerá a pena e te fará pensar MUITO em tudo o que enfrentamos nos últimos tempos e seguimos enfrentando nos dias atuais.

Leva 5 de 5 estrelas.

Passagens interessantes:

"Orã é uma cidade aparentemente moderna. Não é necessário, portanto, definir a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente no que se convencionou chamar de ato de amor, ou se entregam ao hábito de uma longa vida a dois. Tampouco isso é original. Em Orã, como no resto do mundo, por falta de tempo e de reflexão, somos obrigados a amar sem saber." (pg. 10)

"O mal que existe no mundo provém quase sempre da ignorância, e a boa vontade, se não for esclarecida, pode causar tantos danos quanto a maldade" (pg. 125)

"Ele sabia o que a mãe pensava e que nesse momento ela o amava. Mas sabia também que não é grande coisa amar um ser, ou que, pelo menos, um amor não é nunca bastante forte para encontrar a sua própria expressão. Assim, sua mãe e ele se amariam sempre em silêncio. E ela morreria por sua vez - ou ele - sem que, durante toda a vida, tivessem conseguido ir mais longe na confissão da sua ternura." (pg. 270)
edu basílio 03/03/2024minha estante
uau. rods fazendo uma das coisas que sabemos que ele faz de forma impecável: nos despertar o desejo por um livro. obrigado por isso, meu querido.


Rodrigo1001 04/03/2024minha estante
Gentleman como sempre! ?? E, se essa resenha despretensiosa atiçou a curiosidade, então atingi meu objetivo!




Beatriz 05/07/2020

Um dos melhores livros da vida
O melhor livro da quarentena e um dos melhores da minha vida. A complexidade humana está descrita aqui. Arrepiante.
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Helena Gáti 22/08/2020

2020?
Como muita gente tem feito durante esse período de isolamento, também decidi fazer a leitura de A Peste buscando encontrar paralelos com a realidade que estamos vivendo com o Coronavírus, porém a obra me levou além. Comecei a leitura por mera curiosidade sobre as descrições feitas décadas atrás que subitamente se tornaram nossa própria realidade, mas de repente me vi completamente envolvida (talvez justamente por identificação com o momento) pelos personagens, seus sentimentos, relações e vivências.
A única ressalva que acho importante fazer é que a obra seria uma alegoria a ocupação nazista na França, e por estar buscando paralelos com uma pandemia literal que estamos vivendo, senti que talvez não tenha dado valor a este outro olhar, mas é também uma reflexão que pode (e deve) ser feita ao fim da leitura.
A obra foi o meu primeiro contato com Camus e com certeza me deixou interessada em ler outros livros! Incrível, leitura que recomendo sem sombra de dúvidas!
kellen.ssb 29/08/2020minha estante
Essa alegoria ao nazismo fica bem mais evidente nas páginas finais. Há outras partes no livro que dão também margem para essa interpretação, porém, como estamos vivendo uma pandemia, o início do livro acaba por retratar muito a nossa realidade, fazendo com que fique mais difícil enxergar essa alegoria nas páginas iniciais.


Nati Gonçalves 31/08/2020minha estante
O Estrangeiro é uma excelente obra, vale a pena ler!




Altieris 29/08/2021

A Peste - Albert Camus
A história do romance que destaca a mudança na vida da cidade de Orã, localizada na Argélia, depois que ela é atingida por uma peste assustadora, transmitida por ratos, que dizima a população. A dimensão política deste livro, retrata uma cidadinha assolada pela epidemia, que lembra muito a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

A princípio, as pessoas tinham aceitado estarem isoladas do exterior como teriam aceitado qualquer outro inconveniente temporário que apenas perturbasse alguns de seus hábitos. Mas sentiam confusamente que essa reclusão lhes ameaçava toda a vida e, chegada a noite, a energia que recuperavam com o frescor lançava-os por vezes a atos de desespero.

São recorrentes na obra, o amor, o exílio, a revolta e essencialmente as questões existenciais. Neste livro, Camus traz a percepção do individual sobre o coletivo; o modo como as pessoas veem suas rotinas as unem, mas também as corroem.
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@retratodaleitora 16/03/2020

Leiam A Peste!
Os acontecimentos narrados em “A peste” são ambientados na cidade de Orã, descrita pelo narrador no primeiro parágrafo como “uma cidade comum e não passa de uma prefeitura francesa na costa argelina”, seguida por uma descrição ainda mais detalhada desse lugar e seus habitantes.


“Na nossa pequena cidade, talvez por efeito do clima, tudo se faz ao mesmo tempo, com o mesmo ar frenético e distante”.


Uma cidade pequena, sem grandes atrativos ou novidades... até que no dia 16 de abril, exatamente, o Dr. Rieux sai de seu consultório e se depara com um rato morto. Não seria uma grande coisa, se nos próximos dias mais e mais ratos não fossem encontrados mortos ou agonizando por toda a cidade. Uma infestação sem precedentes, seguida por um pesadelo terrível: a cidade de Orã é tomada pela Peste.


A doença, que faz suas vítimas sufocarem, queimarem de dentro para fora e agonizarem em grande sofrimento, transforma o que antes era um lugar pacato em um cenário febril de desespero, tendo seu ápice quando as autoridades resolvem manter todos os habitantes ali exilados.


Nosso narrador, que não se apresenta de pronto, descreve os eventos do livro de forma extremamente organizada, com uma riqueza de detalhes enorme, assim revelando, sem revelar, se tratar de um personagem ativo. Nosso narrador não se detém a sua experiência individual com a Peste, pois “era detido pelo pensamento de que não havia um só dos seus sofrimentos que não fosse ao mesmo tempo o dos outros e que, num mundo em que a dor é tantas vezes solitária, isso era uma vantagem. Decididamente, devia falar por todos”.


E através de sua experiência, de sua observação e de um diário que encontra, ele escreve essa ao mesmo tempo terrível e bela crônica sobre doença, exílio, a revolta individual e coletiva e valores sociais; povo e governo. Difícil colocar em palavras o quão genial é a escrita do Camus, vencedor do Nobel de literatura, e como ele consegue fazer o leitor mergulhar tão profundamente nesse relado aterrador e refletir junto a esse narrador exemplar. Foi o terceiro livro do autor que leio, e mal posso esperar pelas próximas experiências. Recomendo fortemente!

Já leu algo do Albert Camus?

site: https://www.instagram.com/p/B9H_gRkDN_j/
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jota 05/12/2020

MUITO BOM (incríveis semelhanças entre uma ficção de 1947 e a real pandemia de 2020)
Em vez de quatro estrelas, veja quatro estrelas e meia, avaliação que só pode ser feita no celular, mas já tentou escrever um comentário por meio do aparelho?

Bem, o que mais impressiona em A Peste (1947), o clássico que Albert Camus (1913-1960) escreveu há mais de sete décadas, é que ele dialoga fortemente com os dias de hoje: são inúmeras as coincidências entre as situações vividas pelos personagens da fictícia tragédia trazida pela peste bubônica aos habitantes de Orã, cidade portuária argelina, e aquelas que o mundo todo vem enfrentado desde o início de 2020 com a real pandemia do coronavírus.

Pode-se dizer que é a vida, mais uma vez, imitando a arte, só que agora são os meios de comunicação que fazem a crônica da tragédia, do mesmo modo que o médico Bernard Rieux nos conta, através da alegoria de Camus, o que se passou naquele longínquo ano de 194... em sua cidade natal, então sob o domínio francês, como toda a Argélia (a independência deu-se somente em 1962).

Camus, premiado com o Nobel de literatura em 1957, cuja obra mais conhecida é, certamente, O Estrangeiro (1942), além de ficção também escreveu ensaios, destacando-se nesse gênero com títulos como O Mito de Sísifo (1941) e O Homem Revoltado (1951). Desse modo, seus romances trazem reflexões sobre questões profundas como a existência humana, o que o aproximou, durante certo tempo, do filósofo e romancista Jean-Paul Sartre, o fundador do existencialismo.

Assim é, que durante a crônica da peste em Orã, fechada para o resto do mundo, o Dr. Rieux nos mostra como os seres humanos se comportam diante de uma tragédia, revelando suas angústias, medos, individualismo, mas também solidariedade, compaixão e esperança. O romance de Camus remete para situações de opressão e resistência, vividas tanto durante a ocupação nazista da França quanto do colonialismo por ela exercido em largas porções da África e Oriente. Nas entrelinhas da ficção corre um bocado de história real.

Finalizando: aproveito para recomendar não apenas a leitura de A Peste, mas também a de outro romance nele inspirado, e que mesmo sem a densidade que Camus imprimiu a sua ficção, consegue manter o leitor interessado o tempo todo. Trata-se de O Último Povoado da Terra, de Thomas Mullen, publicado pela Landscape em 2007. Inspirado no livro de Camus e baseado em fatos reais ocorridos durante a epidemia da gripe espanhola nos EUA no início do século XX, o romance de Mullen não é nenhuma obra-prima como a do escritor franco-argelino, mas é suficientemente bem escrito e envolvente que o faz ir além de um exemplar de simples literatura de entretenimento. Seguramente, é muito mais do que isso.

Lido entre 20/11 e 04/12/2020.
Natalie Lagedo 05/12/2020minha estante
Li A Peste no início do ano, e quantos coisa aconteceu de lá pra cá... A vida realmente imitou a arte.


jota 05/12/2020minha estante
Verdade: aqui a vida imitou a arte de um modo assustador. O que diria Camus se estivesse vivo? Acho que ficaria tão perplexo quanto nós. Ou, pelo seu conhecimento do mundo e do ser humano, pode ser que não, se lermos A Peste como uma metáfora de acontecimentos passados, como o nazismo, o colaboracionismo francês, o colonialismo etc.




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Jander 04/01/2024

Ela está em toda a parte
Lê-lo após passarmos por uma pandemia dá a impressão de que o relato estava sendo dos acontecimentos de até bem pouco tempo atrás.

Em forma de uma história contada através de um relator indefinido, o livro se passa em uma cidade fictícia (mas nem tanto). É rico em detalhes e descrições. Albert Camus tece uma premonição como nunca e ninguém poderia ter feito.

E ela está em toda a parte, em todos nós e adormecida.
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