Evy 19/12/2021"quanto basta para que o mundo se torne suportável"?Seria muito difícil dar menos de cinco estrelas para esta obra de Saramago, ainda mais com aquele final estarrecedor. Este autor é realmente genial. Já tinha lido esse livro em 2011 e tive a oportunidade de relê-lo este ano em LC com amigos.
A obra está dividida em duas histórias que vão sendo apresentadas paralelamente: a de Portugal através da construção do Convento de Mafra por D. João V, promessa feita a um padre franciscano para que a rainha engravidasse e lhe desse um herdeiro, e a de Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, envolvidos na construção de uma "máquina de fazer voar" projetada pelo Padre Bartolomeu Dias.
Saramago traz diferentes formas para abordar esss histórias, sendo bastante irônico ao narrar os hábitos da realeza e o poder exercido pela igreja sobre o povo oprimido e mais sonhador nos capítulos em que narra Blimunda e Baltazar. Saramago une a ficção e o fantástico aos fatos históricos reais da época, como os Autos de Fé, as procissões de penitentes e a própria construção do Convento de Mafra envolvendo o sacrifício da população pobre e fazendo muitas vítimas no carregamento da grande pedra para o pórtico, um episódio muito marcante na obra.
O livro percorre um período de quase 30 anos na história de Portugal na época da Inquisição e todo o cenário é ricamente descrito por Saramago que além de contar os fatos históricos, reconstitui a vivência popular e a cultura das regiões. Confesso que achei essa parte um pouco mais cansativa, embora interessante.
Me encantei mesmo foi com Blimunda e seus poderes especiais de ver as pessoas por dentro quando está em jejum, se tornando desta forma, a responsável por captar as vontades das pessoas que são recolhidas e servem de combustível para a Passarola e Baltazar, soldado expulso do exército por perder a mão esquerda na guerra, e que apesar de sonhar constantemente que ainda a tem, é determinado e destemido. A história dos dois é muito bonita, um amor fora de todos os códigos e regras sociais da época, e com um final estarrecedor.
"Todo o lugar da terra é antecâmara do inferno, umas vezes vai-se morto a ele, outras vai-se vivo e a morte é depois que vem, Por enquanto estamos vivos, Amanhã estaremos mortos".
Leitura super recomendada!