Victor Dantas 12/07/2020
Um outro lado da história. A resiliência de um povo.
Estamos acostumados ler histórias sobre a segunda guerra mundial que geralmente se passa na Alemanha, ou que remete ao holocausto nazista, não que isso seja um aspecto negativo, pelo contrário, afinal esse período histórico, moldou esse país de cabo a rabo, que é preciso ainda de muita literatura para dar conta.
Mas, neste livro, a Ruta Sepetys apresenta outra perspectiva, nos leva a outro lugar que também vivenciou e fez parte desse período tão sangrento. Sendo filha de um lituano que se refugiou nos EUA, a autora então, vai nos contar como a Lituânia e seu povo participou da segunda guerra.
Na trama, somos apresentados a família Vilkas, onde Lina Vilkas é a personagem principal do livro, e acompanhamos através dela todos os acontecimentos.
O ano é 1941, e, a história começa com Lina, sua mãe e seu irmão Jonas, tendo a casa invadida na madrugada por soldados da NKVD (uma antiga organização militar soviética), e, sendo obrigados a abandonar o local, e seguirem para Rússia.
O que estava acontecendo? A Lituânia estava sendo invadida.
Por quem? Stalin, que queria anexar o país a União Soviética.
O motivo que fez com que famílias como a da Lina, fossem deportadas para Rússia, se deve a perseguição na época por intelectuais (o pai de Lina é professor universitário), e, por terem laços com cidadãos germânicos (o tio da Lina é germânico).
Sem saber onde está seu pai, Lina, sua mãe e seu irmão são levados embora do seu país, e então, vamos acompanhar a jornada dessa família ao longo de anos por toda Rússia, vivendo em vagões de trens imundos, amontoados de lituanos, em situação insalubre, e sendo submetidos a violência e trabalho forçado nas aldeias soviéticas.
Essa realidade sangrenta, de torturas e violência, a qual a família da Lina e outros milhares de lituanos vivenciaram, durou 12 anos. E durante esse período, os personagens passaram por situações absurdas, dolorosas, que faz com que o leitor tenha que interromper a leitura em momentos para retomar o fôlego.
Essa sensação, se deve ao trabalho de pesquisa impecável que a Ruta fez, e inseriu nesse livro com todo cuidado, retratando tudo como muita veracidade, sua narrativa, a forma como escreve é fluida e poética.
Os personagens criados pela autora, foram inspirados em pessoas reais, lituanos que sentiram na pele esse período. Isso fez com que eles fossem palpáveis para o leitor, não só a família da Lina, mas também, os personagens coadjuvantes da trama (Andrius, Careca, Senhora Arvydas e outros).
No que se refere aos militares soviéticos que são incluídos na trama, e, que estava a mando de Stalin nessas operações de invasão e deportação não só da Lituânia, mas também da Estônia, Letônia, vemos as estratégias sendo tomadas para a dominação política e ideológica, e o recrutamento forçado desses povos, que davam início ao conflito mórbido entre Stalin e Hitler, que se estenderia até 1945.
Durante o desenrolar da história, somos apresentados também a cultura lituana, crenças, costumes, de um país, que pouco a gente vê ser mencionado nos livros, na mídia, e em outros veículos.
Um país que sentiu na pele as consequências dessa guerra sangrenta, um povo que foi reduzido a cinzas e neve, mas, que ao final...o sol nasceu, veio a primavera, e tudo floresceu novamente, mas, nada foi esquecido.
E é esta, a mensagem final que o livro traz.
Leia. Aprecie essa obra, e essa autora que merece mais destaque.