Israel145 30/03/2016A grande depressão de 1929 foi um marco na história americana e suas consequências se espalharam pelas entranhas do país acometendo os Estados Unidos de uma estagnação econômica, social e moral. A miséria que assolou o país surgiu em diversas facetas e uma delas foi a migração das famílias do leste e meio-oeste americano para a Califórnia, a terra dos sonhos para muitos na época. A Califórnia, por ser um estado altamente industrializado criou uma ilusão de segurança e bem estar social, atraindo milhares e milhares de caravanas de caipiras famintos e sedentos por uma oportunidade de trabalho, atraindo assim mais miséria num desastroso círculo vicioso.
Essa história é narrada com maestria por John Steinbeck quando apresenta a saga da família Joad, que tem sua fazendinha tomada por grandes proprietários quando o banco executa a hipoteca e esses se veem incapazes de competir com a agricultura mecanizada. Partem então numa sufocante jornada pelo coração do país em busca de trabalho rumo à uma nova conquista do oeste em direção à Califórnia.
Steinbeck narra as condições humilhantes e desumanas como eram tratados os trabalhadores, a exploração desconcertante, a luta pela comida e pelo centavo de dólar para comprar um pouco de gasolina e continuar a jornada rumo ao desconhecido.
A linguagem simples dos personagens coloca o leitor dentro do cerne da família. Impossível não se afeiçoar imediatamente ao jovem Tom Joad, recém saído da prisão depois de cumprir pena por assassinato e ao regressar, encontra a família se preparando para a arribada, expulsos da terra onde nasceram, rumo a um destino incerto.
O autor se consagrou com As vinhas da ira e Ao leste do éden, mas o linguajar simples, a situação do caipira e a crueza da vida também são exploradas no clássico Ratos e homens, seu livro mais conhecido. Na saga dos Joad é inegável a simpatia descarada que Steinbeck nutre pelo comunismo, colocando várias vezes os Joad em acampamentos de trabalhadores autogestionários. Uma luz num túnel de desespero e uma opção ao capitalismo que então sofrera seu grande primeiro baque. Ele vê com simpatia a alternativa comunista para um mundo mais justo.
Ao expor o lado reverso do sonho americano, John Steinbeck conferiu ao mundo um clássico da literatura, onde mostra o peso da exploração do homem pelo homem, da natureza inclemente e de um sistema às vias da falência por meio da condição nômade dos Joad. Clássico absoluto.