Flávia 28/04/2020Não foi escrito para divertirEste é um livro difícil, pesado. Embora não tenha me tirado lágrimas, me causou sensações que variavam entre desconforto, indignação e raiva. De forma inexplicável, em alguns momentos, também me encheu de uma sensação boa de afeto, como se eu também pudesse ser acolhida pelos personagens, caso cruzasse com eles.
A história narra uma odisseia protagonizada por uma família que é expulsa de suas terras e se vê obrigada a procurar outro lugar e outras formas para sobreviver. Os Joad são inicialmente compostos por mais de 10 pessoas, incluindo idosos, crianças, adultos em diferentes fases e uma mulher grávida, que viajam por centenas de quilômetros em busca simplesmente de um trabalho que os alimente e, que talvez um dia, permita que tenham um teto. Teto que, vale dizer, eles já possuíam e que foram tomados nesse mesmo período da crise de 1929.
A riqueza com que cada personagem é construído torna a narração ainda mais visceral e pesada e, pela variedade de perfis, permite ao leitor o conhecimento de várias perspectivas.
O livro traz diversas situações da viagem nas quais se expuseram essas pessoas com pouquíssimo dinheiro e tantos sonhos. A todas essas situações, novas soluções eram dadas, em sua maioria, pela matriarca.
Eu particularmente tenho um carinho a mais por histórias que mostram mulheres como a mãe dos Joad, com papeis além do que é comumente esperado. Durante toda a narração ela, embora não seja a protagonista, ao meu ver, foi a principal. Foi ela quem demonstrou forte senso estratégico, uma esperança sólida, sonhos e planos ambiciosos, um carinho enorme por cada membro de sua familia, solidariedade pelos que encontravam pelo caminho e compreensão em todas as ações realizadas por qualquer Joad. Ninguém era julgado, já que todos ali faziam sempre o melhor que estava ao seu alcance.
A mãe esteve presente a todos em todos os momentos e, no típico papel feminino de uma família, esteve sempre disposta a servir, mas não só isso (embora já seja uma grande tarefa): ela também se tornou o forte pilar que os sustentou.
Depois de finalizada a leitura, diferente do que eu imaginei, não consegui agradecer por viver em uma situação diferente. Ainda ficou a sensação claustrofóbica, um carinho enorme por cada personagem da família e a compreensão real de quando ouvi que esse livro mudaria significativamente minha cabeça.