spoiler visualizarAna Bruno 01/04/2020
Um livro duro e triste
Ganhador de dois dos principais prêmios da literatura (Putlizer e o Nobel), "As Vinhas da Ira" nos retrata a realidade sofrida de famílias americanas das áreas rurais, em especial da região oeste, diante da devastadora crise iniciada em 1929, a Grande Depressão.
No livro, o autor nos guia pelo árduo êxodo da família Joad, forçada a abandonar as terras onde eram meeiros, em busca de promessas de empregos, sustento, dignidade e moradia na "maravilhosa" Califórnia, vislumbradas em panfletos enriquecidos com propaganda e esperança de um sonho possível. Já no percurso começam a perceber que a realidade pode não ser bem aquilo que eles esperam. Que a "isca" que os atraira também levava o desejo a centenas, milhares de outras famílias desesperadas. E quando finalmente chegam à Califórnia, descobrem a existência de um grande preconceito e que o trabalho que existe é pouco e mal-remunerado, além de imperar a ganância e a exploração da mão de obra barata.
Pensar em centenas de famílias passando por aquela situação é bastante doloroso.
E é essa a melhor classificação para esse livro. Um livro doloroso. E duro. E sofrido. E triste.
Alternando com as desventuras sem fim da família Joad, temos capítulos que remontam o cenário geral da dramática situação dessa parte do povo americano em sua pior depressão econômica.
É um livro considerado "life-changing book", no sentido de oportunizar muita reflexão e mudança de pensamento ou modo de encarar a vida.
Não sei se é uma boa leitura para o momento, diante da perspectiva de um futuro econômico incerto para nosso país, frente à situação que vivermos com essa pandemia. Espero que não cheguemos nem próximo de uma recessão como essa...
Enfim, o livro tem uma escrita fácil, doméstica e talvez por isso mesmo, nos conecte com os personagens de forma tão sensível.
Meu destaque vai para a "mãe", a sra. Joad, que se mostra de uma força sobre-humana, a verdadeira espinha dorsal dessa família.
?Nos olhos dos homens reflete-se o fracasso. Nos olhos dos esfaimados cresce a ira. Na alma do povo, as vinhas da ira diluem-se e espraiam-se com ímpeto, amadurecem com ímpeto para a vindima.?
JOHN ERNST STEINBECK