Marina 01/06/2011
Uma grata surpresa.
Antes de mais nada, este livro não é para qualquer um. Não mesmo. Mas não se sinta previamente desmerecido, leitor. Explico:
Quando estava lendo o livro, senti-me como uma das personagens, dividida em duas: a parte que gostava - chamemos de "lado tranquilo" - e a parte afoita e compulsiva por leitura que não gostava - chmamemos de "lado mala". Exatamente nesta ordem, pois a parte que gostava sempre se manifestava primeiro. Então acho que posso falar dos dois lados, como se fossem leitores diferentes.
Eu comecei o livro como quem não quer nada, apesar de ter comprado por recomendação. A leitura fluiu numa boa. A narrativa é feita pelo ponto de vista de K, um dos personagens. E é simplesmente cativante como ele te mostra a Sumire, a importância que ela tem para ele e, depois, a Miu e sua importância para Sumire, além dos próprios problemas que ele tem de se relacionar com o mundo. Isto me leva a dizer que, apesar de, em algum ponto, a história tomar um rumo inesperado, tudo o que Haruki conta é extremamente humano, a ponto de eu não me espantar que isto acontecesse com qualquer um.
Voltando aos personagens: Enquanto K é retraído e normal até demais, Sumire é excêntrica e sem medo de expôr, talvez por não compreender o quanto é diferente dos outros. E a forma com que eles se completam é linda, apesar de serem apenas grandes amigos. Já Miu, por quem Sumire se apaixona, é uma figura misteriosa, reservada, que chama a atenção pela sua beleza, modos elegantes e espontaneidade refinada. Arquétipos tão diferentes, mas com tantas coisas em comum...
Mas lá pelas tantas noventa e tantas páginas, o "lado mala" me perguntou onde o livro queria chegar. Foi então que Sumire sumiu. E eu vibrei. Veja bem, eu gosto muito de Sumire e fiquei tão infeliz quanto K e Miu pelo seu sumiço, mas era uma virada necessária para a história.
E me fez ver que o livro vai muito além da trama; é um livro sobre gente, como eu e você.
É um livro para ler, parar, pensar, pensar, pensar... Eu queria ver mais alguém que tivesse lido este livro. Certamente deve trazer reflexões diferentes para cada um que lê, pois Miu, Sumire e K. tem coisas que todo mundo deve ter dentro de si em alguma medida.
Cada fato novo trouxe novos pensamentos a K. e não seria pecado o leitor embarcar também nas ideias do personagem e nas suas próprias. Dito isto, devo confessar, em alguns momentos do livro, eu chorei. Por eles, por mim... Tudo junto.
Não vou dizer que o meu "lado chato" não se manifestou de novo. Na verdade, sim. Mas talvez porque eu tenha lido o livro em dois ou três dias, de forma a sempre querer saber a história vai me fazer de novo e, também, para saber o que acontece à Sumire e os outros (e com você mesmo).
Eu fiquei deliciada com o final. O "lado chato" quase veio dizer oi, mas não deu... O argumento que ele tinha era tão irrelevante que eu só consegui vibrar, me emocionar e correr para algum lugar e dizer o quanto eu amei de paixão este livro e como pretendo re-lê-lo, apesar de ser totalmente contra a minha política de leitora.
Concluirei, então, sendo sincera, como fui em toda a resenha: Leia o livro. Há uma possibilidade de um tantinho acima do comum de você não gostar, especialmente se você for uma compulsiva que não reflete se entrega e reflete sobre o que lê. Mas se você se entregar à Sumire, Miu e K., seus medos, ânseios e humanidades e a escrita extremamente simples, honesta e humana de Murakami, há uma grande(ssíssima) possibilidade de você, no mínimo, gostar muito do livro.