spoiler visualizarVictoria.Olzany 10/11/2021
Eu não precisava ter medo desse livro. Eu não preciso ter medo da vida.
Hesitei muito, por medo, a ler esse livro, por seu tema, e pela história de sua autora. Ele ficou meses em minha estante. Mas, por vontade de ler algo impactante, tomei coragem.
Esther é uma jovem, nos anos 1950, uma jovem com as aspirações, com sonhos, e até algumas conquistas. Mas assistimos ela ir paralisando, sucumbindo, diante da pressão, da diferença entre o que a sociedade espera dela (casamento, filhos, um lar), e do que ela deseja para ela mesma (uma carreira como escritora, independência). Ela vai sendo tomada por uma apatia, tudo o que a envolve vai sendo tomado por um marasmo desolador; durante a leitura, essa sensação se torna muito palpável, de uma maneira angustiante e desesperadora, em uma experiência sensorial.
Os flertes com o suicídio vão se tornando cada vez mais presentes, acompanhamos várias ideações. Até que esse caminho, felizmente, a conduz a um tratamento (obviamente marcado pelas práticas médicas da época, internação psiquiátrica, eletrochoques). Mas esse tratamento, após adaptações, surte efeito; acompanhamos algo do relacionamento de Esther com sua psiquiatra, e com seu próprio tratamento.
Uma de suas colegas de internação se suicida, mas Esther consegue tocar seu tratamento, e retomar sua rotina, com a consciência de que a depressão continua a acompanhando, continua no seu horizonte.
Eu tinha medo do final, de gatilhos que pudessem ser disparados dentro de mim. Mas posso dizer que fui surpreendida por uma visão muito lúcida e esperançosa sobre a trajetória de Esther (e, consequentemente, sobre a trajetória de outras depressivas, como eu).