Nicole 17/01/2014
Não foi bem o que eu esperava...
O livro trata da história de Beatrice, que vive em uma época onde a sociedade é dividida por facções, outro nome para castas - só que nas facções, ao contrário das castas, é permitida a mudança entre Abnegação (facção em que Beatrice nasceu), Amizade, Franqueza, Erudição e Audácia. É essa última para a qual Beatrice escolhe se transferir, mas ela tinha mais opções pois é "divergente", uma inclinação a várias facções e não apenar a uma delas. Cada facção possui seu lema: Altruísmo, Amizade, Verdade, Sabedoria e Coragem respectivamente.
Segundo o livro, após certa "Grande Guerra" onde o mundo ficou arrasado, as pessoas que consideravam o egoísmo o motivo da mesma, formaram a abnegação. As que consideraram a inimizade, criaram a amizade, e por aí vai. Agora, notei diversas falhas nessa filosofia/mitologia. Provavelmente a "guerra" afetou os cérebros dos humanos existentes por lá, já que é claro até mesmo para uma criança que nenhum desses motivos separados seriam a causa de uma guerra dessas. A Amizade, por exemplo, é a facção que faz menos sentido - inimigos podem gerar guerras, sim, mas ninguém nasce se odiando. A inimizade é uma óbvia consequência de algum ato, como algum ato egoísta. Essas e tantas outras falhas da filosofia/mitologia de Divergente me deixaram irritada, e foram responsáveis por diversos post-its com minhas decepções nas páginas do livro. Contudo, vamos continuar a história.
Beatrice chega então à cede da Audácia, e descobre que não é membro efetiva - pelo menos não até concluir um treinamento que irá eliminar metade de seus concorrentes, e estes se tornarão os "sem-facção". Ela deixa claro que todos morrem de medo de não pertencer à qualquer uma das cinco facções, que ela mesma preferiria morrer, pois se tornarão uma espécie de mendigos sem teto e sem nada. Entretanto, em algumas passagens do livro ela descreve momentos em que sua mãe, que é da Abnegação, faz cachecóis para os sem-facção, e outras em que ela dá comida aos mesmos; eles só precisam pedir. Ai eu penso: qual é o grande mal de ser um sem facção? Os altruístas da Abnegação não são capazes de dizer não. Enquanto todos que pertencem à uma facção são de certa forma prisioneiros das mesmas, e da cidade, já que esta é trancada pelo lado de fora, e obviamente as pessoas não podem sair quando bem entendem, os sem-facção são livres para perambularem por onde querem - a não ser fora da cidade, eu acho. Quando eles têm fome, é só pedir comida para qualquer um da Abnegação que receberão comida. É capaz de pedirem para dormir em suas camas, e os "caretas" (como é chamado pessoal da Abnegação) deixarem. E não precisam trabalhar, nem fazer nada. Eu preferiria de ser uma sem-facção, e tentaria sair da cidade de alguma forma, mesmo que é o pessoal da Audácia que cuida para o pessoal não sair - acho que isso não é dito explicitamente no livro, é uma conclusão a que cheguei. Acho que sei o que acontece nos próximos livros, mas não posso dizer porque vai que acontece mesmo, já que o livro todo é óbvio desde o começo, então não espere nenhuma surpresa no final, pois tudo o que acontecerá você já terá adivinhado muitas folhas antes. Será que estou certa sobre o que acontecerá? Hm, provavelmente não saberei.
Ok, então começam os treinamentos e aí já notei outras tantas falhas na filosofia da Audácia, mas acredito que a autora o fez de propósito. É aí que Beatrice conhece o Quatro, e de cara você já vai perceber o que ele será para Tris. Depois que ela o conhece, percebi que o livro na verdade segue a fórmula do típico livro YA: garota nem feia nem bonita, nova no local, que conhece "o cara" forte e corajoso e tudo de bom, se apaixona e acredite? Ele também. Chega a ser patético momentos como alguns em que Tris pode cair e morrer a qualquer momento, e simplesmente esquece desse simples fato pois o cara está lá perto dela, e ela acabando por perder a concentração e quase morrer mesmo (preciso lembrar que livros YA não são muito minha praia). No fim, até que fica melhor quando os momentos de romance surreal se esvaem, mas Tris continua sendo irritante, com a personalidade extremamente instável, variando entre corajosa e fria, para fraca e chorona. Este é outro ponto que talvez seja proposital, mas não gostei de qualquer modo.
Durante a leitura, travei contantes batalhas interiores entre a parte de mim que queria desistir do livro, e a parte de mim que queria continuar a leitura - afinal, eu paguei por cada página do mesmo. Isso se deu ao fato da escrita de Veronica Roth escrever de forma seca, com pontos e mais pontos finais, quase robótica. Certa vez li em algum lugar que esse tipo de escrita caracteriza adolescentes, o que parece ser aplicável ao livro, já que ele é narrado em primeira pessoa.
O lado ruim dessa escrita parece ser o fato de o leitor não conseguir entrar no livro de cabeça; não conseguir se colocar no lugar da personagem principal e não achá-la nem um pouco carismática, que mesmo descrita como pequena e fraca, não nos incentiva a torcer por ela em momentos decisivos.
É claro que Divergente não é feito apenas de pontos negativos. O livro fica legal nos últimos capítulos, mas isso só acontece se todo o resto do livro, que parece mais como a maior introdução de um livro que eu já li, for lido. Há emoção e também lições válidas como a superação de nossos medos e o valor do amor e da família.
Bem, essa foi minha impressão sobre o livro Divergente, de Veronica Roth, lançado em 2012, pela editora Rocco aqui no Brasil, com 502 páginas. Acho que esse é um daqueles livros que todo mundo gostou e eu não