rntpincelli 07/11/2023
A Rua do Ouvidor é cenário frequente neste gênero tão nosso, a crônica. Porém, nesta antologia com 100 crônicas, o célebre logradouro carioca aparece apenas quatro vezes: José do Alencar o menciona duas vezes como endereço da fábrica que visita em “Máquinas de Coser”. Machado de Assis a indica primeiro como seu local de trabalho ao fazer o obituário d‘O Livreiro Garnier e logo depois recorda a versão anterior da Rua, “anterior e acabada”.
E ainda bem porque, se fosse se restringir a esse cenário, o organizador da seleta, o jornalista e também cronista Joaquim Ferreira dos Santos poderia até reunir cem crônicas mas não seriam das melhores nem de um grupo tão diversificado quanto os nomes que estampam a capa da obra. O editor-cronista ordena os textos segundo a cronologia, começando por dois longos períodos clássicos (1850-1920 e 1920-1950), seguidos de recortes por décadas (entre 1950 e 2000). Cada intervalo é aberto por uma breve nota que contextualiza cada época e seus autores.
Dito isso, talvez caiba aqui uma lista das crônicas que mais gostei dentre as cem. Além dos dois textos já citados no parágrafo de abertura, posso recomendar quinze: “O dia de um homem em 1920” (João do Rio), “Talvez o último desejo” (Rachel de Queiroz), “A mosca azul” (Humberto de Campos), “Ser brotinho” (Paulo Mendes de Campos), “Homem no mar” (Rubem Braga), “Os dois bonitos e os dois feios” (Rachel de Queiroz), “Antigamente” (Carlos Drummond de Andrade), “Flor de obsessão” (Nelson Rodrigues), “Um lugar ao sol” (Chico Buarque), “Medo da Eternidade” (Clarice Lispector), “Então, adeus!” (Lygia Fagundes Telles), “Sobre o amor” (Ferreira Gullar), “Sexo na cabeça” (Luis Fernando Verissimo), “Para você estar passando adiante” (Ricardo Freire) e “Bar ruim é lindo, bicho” (Antônio Prata).