Leticia 09/11/2021
Se Riobaldo ama "inteiriço fatal", fatalmente eu amaria
Tá aí um livro que eu morria de medo, sua fama me aterrorizava, iniciei essa leitura pronta para nada entender. É... Guimarães Rosa, cê acabou comigo! Mas eu gostei de me acabar, me acabar de lágrimas e de amor. Eu aqui não me proponho a uma resenha, até porque não tenho cacife para isso, mas coloco aqui as minhas singelas reflexões.
Nessa travessia, pouco mais de quatrocentas páginas. Eu, Ana, consegui me perder um pouco, na vida e na narrativa. Eu acho que perder-se é uma capacidade dignamente humana, as certezas estão para além dessa mera existência mortal. É como diz Riobaldo " Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa".
Na travessia de Riobaldo e Diadorim que se perdem nas veredas do sertão e do coração, aprendendo que o amor é um "inteiriço fatal" , a recusa se faz presente, e ela é incessante. Recusa do amor, do ir, do viver, do morrer. Perder-se na vida, na travessia. A entrega a desorientação é por demais dolorida, e fica a tentativa de encontrar um Deus, um demônio, um existir, um Deus por vez odioso, um diabo amoroso (um amor não tal como o cristão, mas um amor que satisfaz os nossos desejos, desejos demoníacos?)
Riobaldo diz que "o diabo vige dentro do homem" então, talvez sejamos o próprio demônio, soltos por aí, demônios encurralados dentro de um corpo mortal, frágil, assim, "viver é muito perigoso" além de ser perigoso, sempre acaba em morte, mas esse corpo enquanto não encontra Thánatos, insiste no viver, o como viver é uma resposta singular, ela não está posta , fica o que diz Riobaldo: "O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia."
Obs: Ao lerem o livro não procurem imagens da adaptação, eu - jacú - fiz isso, levei um baita spoiler ?.