Alberto 20/01/2022Um dos melhores livros, mas só se o leitor vem com a expectativa certa.É um dos melhores livros que li, mas é obviamente um livro para um público bem específico. Não significa que quem não gosta dele não é inteligente ou coisa assim. É simplesmente um livro escrito por um tipo específico de autor visando um público-alvo bem determinado e minoritário. Eu indicaria o livro para quem (1) ama histórias longas, (2) não tem preguiça de usar o dicionário e gosta de aprender palavras novas, (3) gosta da língua portuguesa e de poesia, (4) tem uma boa experiência de leitura e já está habituado com os instrumentos e técnicas dos autores mais "eruditos". Não indico esse livro para leitores iniciantes ou pouco experientes, pessoas com vocabulário muito pequeno e que não gostam de mexer com dicionário, leitores apressados que querem saber logo o final, leitores que só se interessam pelo enredo e desprezam o aspecto da beleza do texto (neste livro a estética é tão importante quanto a história, ou mais; foi escrito para ser bonito, não tanto para contar o "causo"). Claro que o livro seria mais divertido para quem não recebeu spoiller sobre o final, mas acho que há bem pouca gente nessa classe. De todo modo, mesmo que você já saiba como é que termina, o livro é valioso pelo modo de narrar, pela perícia do autor em inventar um universo e uma língua própria para esse universo, pela construção cuidadosa e aprofundada dos personagens, pelos coadjuvantes, pelas cenas fortes e pelas muitas frases lapidares, memoráveis que apresenta. É um estudo sobre o sertão, que não é um lugar, mas uma espécie de estado de espírito, e que está presente mesmo nas metrópoles deste século infeliz. É também um estudo sobre amizade, amor, poder, política, saudade e arrependimentos. Não é um estudo sobre o linguajar do homem da roça: a língua que Rosa usou para escrever a obra é própria dele, do universo ficcional dele, é uma invenção e não uma descrição; serve para tornar o texto belo, musical, melodioso, e para extrair o leitor do mundo real, cotidiano, e transportá-lo para um universo paralelo imaginário cheio de heroísmo, desafios de vida e morte, amizade além da vida, fatalidade e beleza. "Grande Sertão" é uma caverna de Aladin cheia de tesouros, para quem estiver maduro para explorar. É um dos poucos livros que considero que todo mundo devia ler uma vez. E para quem folhear as primeiras páginas e achar que não se enturmou, sugiro voltar dez anos mais tarde, depois de ter lido muitos outros livros, para ver se se enturma. É um livro que exige uma certa experiência do leitor. Se você não gostou, talvez só não esteja pronto para ele.