Cris 02/03/2017
Mágico embora cansativo ao extremo.
"Abre ao cair da noite, fecha ao amanhecer."
'O Circo da Noite' tinha tudo para ser uma leitura perfeita, todos os ingredientes que me enfeitiçam estão ali, porém por alguns detalhes Erin Morgenstern não me convenceu. Ela chegou a apresentar uma história interessante e com grande potencial e, embora não tenha deixado pontas soltas em sua conclusão, não conseguiu despertar em mim metade do que achava que despertaria.
Tudo começa quando dois velhos e misteriosos amigos se encontram e decidem, mais uma vez, iniciar um torneio intermediado por dois aspirantes à ilusionistas escolhidos curiosamente por eles. Próspero, treinaria a filha, e o enigmático amigo, Marco, um menino recém-adotado de um orfanato. Havia apenas uma única regra, ambos não poderiam se conhecer até que o treinamento fosse concluído, eles teriam que ser treinados separadamente e quando avisados duelariam em prol de algo totalmente desconhecido por eles e pelo leitor. Com o passar do tempo os dois oponentes começaram a desconfiar que não eram apenas duas pessoas escolhidas aleatoriamente, eles sentiam que estavam de alguma forma presos a um feitiço, presos àquele Circo.
Qual a magia envolta de tudo? Que desafio eles teriam de enfrentar?
"Às vezes a vida nos leva a lugares inesperados. O futuro nunca está gravado em pedra, lembre-se disso."
Sempre tive muita vontade de ler este livro, sua capa chamava minha atenção e lá no fundo tinha a sensação de que viveria uma mágica e envolvente experiência. Bem, hoje posso dizer que me sinto um tanto frustada, não que o livro seja de todo ruim, ele apenas prometeu demais e acabou não superando minhas expectativas. O fato da história percorrer o século XIX apenas enalteceu minha vontade de amá-lo, adoro livros de época, sendo assim, é sempre interessante saber como um determinado autor destrincha esse lado.
A construção da história é bem orquestrada. Me sentia dentro daquelas mágicas tendas que, inexplicavelmente, davam um show a todos os espectadores que nada sabiam da origem do "Le Cirque des Rêves", ou melhor, "O Circo da Noite". Ao ponto que tudo é mágico e curioso, Erin ousou no mistério, ousou tanto que tornou o enredo um pouco cansativo. A falta de pistas acerca do que seria o desafio e a origem do circo infelizmente me brocharam, senti falta daquelas dicas jogadas ao vento a fim de roubar a atenção do leitor. Sim, ele é bem escrito! Sim, tem começo, meio e fim redondinhos, no entanto, acho que a autora pecou e muito nesse quesito. Se eu pudesse descrevê-lo em 3 palavras, seriam: mágico, intrincado e maçante.
A contagem do tempo e separação dos capítulos neste livro também podem confundir um número considerável de leitores pois não existe uma linha cronológica para os acontecimentos, a trama é intercalada entre o passado e presente, ou seja, a leitura acaba exigindo uma atenção maior para que nenhum detalhe ou fato importante fique ao Deus dará ou passe despercebido.
Com uma trama rica embora enrolada, seus personagens não poderiam ficar para trás, não é mesmo? Errado. Erin nos trouxe personagens chatos e bem desinteressantes, lamentavelmente não consegui me envolver com nenhum. Os próprios protagonistas Célia e Marco ficam em segundo plano perante a importância que a autora dá ao Circo, este sim é o personagem principal, sentia que todos estavam sendo tratados como peças de xadrez, todos eram dispensáveis e passíveis de xeque-mate.
A escrita de Erin Morgenstern é fina, rica e levemente rebuscada. Já sua narrativa é arrastada, tenho certeza de que 'O Circo da Noite' não é um livro para ser devorado, os próprios acontecimentos durante a trama seguem uma demorada linha de chegada. Portanto, não espere grandes saltos na história, tudo é delicadamente explicado, tenha paciência rs!
Enfim, ainda quero ler um outro livro da autora para ter uma opinião melhor acerca de sua escrita, por ora posso dizer que li um bom livro. Ela teve uma ótima ideia embora seja um pouco mal executada. Se eu indico? Depende. Se você ama livros de fantasia eu até posso arriscar, mas aviso: não crie expectativas. Este livro é o que ele é. Nada mais!
" - A magia não é a razão suficiente para viver? - pergunta Widget.
- Magia - repete o homem de terno cinza, transformando a palavra numa risada. - Isso não é magia. É a forma como o mundo é, só que poucas pessoas arranjam tempo para parar e observar. Olhe ao redor - diz, indicando as mesas em volta. - Ninguém aqui tem a menor noção das coisas que são possíveis neste mundo, e o pior é que ninguém prestaria atenção se você tentasse elucidá-las.
As pessoas preferem acreditar que magia é apenas uma ilusão inteligente, porque achar que algo é real não as deixaria dormir à noite, de medo da própria existência."