Rafaela 28/07/2019
"O homem não vive somente a sua vida individual, consciente ou inconscientemente participa também da vida da sua época e dos seus contemporâneos." (P.42)
"Para um homem se dispor a empreender uma obra que ultrapassa a medida das absolutas necessidades, sem que a época saiba uma resposta satisfatória para a pergunta 'para quê', é indispensável ou um isolamento moral e uma independência, como raras vezes se encontram e têm um quê heróico, ou então uma vitalidade muito robusta."(p.42)
"A malícia [...] é a mais esplêndida arma da razão na lutra contra as potências das trevas e da fealdade. [...] é o espírito da crítica, e a crítica representa a origem do progresso e do esclarecimento." (P.74)
"É a consciência do tempo que ameaça perder-se na uniformidade constante, e que liga laços tão estreitos de parentesco e afinidade à própria sensação de vida, que não se pode debilitar uma sem que a outra definhe também." (P.120)
"O que se chama de tédio é, portanto, na realidade, antes uma breviedade mórbida do tempo, provocada pela monotonia: em casos de igualdade contínua, os grandes lapsos de tempo chegam a encolher-se a tal ponto, que causam ao coração um susto moral; quando um dia é como todos, todos são como um só; passada numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos." (P.120)
"E Hans Cartorp viu o que devia ter esperado, mas que, em realidade, não cabe ver ao homem, e que jamais teria crido poder ver: lançou um olhar para dentro do seu próprio túmulo." (P.246)
"Que era a vida? Ninguém sabia. Ninguém conhecia o ponto donde brotava a natureza, e no qual ela se acendia. A partir desse ponto, nada havia na vida que não estivesse motivado ou estivesse apenas insuficiente; mas a própria vida parecia não ter motivo." (P.308)
"Pois a morte não era se não a negação lógica da vida, entre esta, porém, e a natureza inanimada abria-se um abismo por cima do qual a ciência em vão se empenhava em lançar uma ponte." (P.308)
"Que é o tempo? Um mistério: é imaterial e onipotente. É uma condição de mundo exterior; é um movimento mesclado à existência dos corpos no espaço e à sua marcha." (P.384)
"Ora, estabelecer o postulado do eterno e do infinito não significa, porventura, o aniquilamento lógico e matemático de tudo o que é limitado e finito, e a sua redução aproximada a zero?" (P.384)
"Relações assim ampliam o horizonte de maneira inesperada e permitem olhar para o mundo cuja existência a gente absolutamente ignorava." (P.456)
"Mas criem em torno do coração e do cérebro uma couraça de desconfiança. Nunca deixem de opor uma resistência crítica." (P.457)
"[...] - gravem na sua memória que o espírito é soberano, que a sua vontade é livre, que determina o mundo moral." (P.457)
"Mas ninguém que voltasse da morte seria capaz de lhe contar coisas interessantes a seu respeito, uma vez que ela não se percebe. Saímos das trevas e entramos nas trevas. Entre elas há experiências mas o começo e o fim, o nascimento e a morte, não são coisas que notamos, não tem caráter subjetivo; como processos pertencem inteiramente à esfera do objetivo." (P.596)
"Certas aventuras da carne e do espírito, sublimando a tua singeleza, fizeram teu espírito sobreviver ao que tua carne dificilmente poderá resistir. Momentos houve em que, cheios de pressentimentos e absorto na tua obra 'regente'; viste brotar da morte e da luxúria carnal um sonho de amor. Será que também da festa universal da morte, da perniciosa febre que ao nosso redor inflama o céu desta noite chuvosa, surgirá um dia o amor?" (P.801)