Michael Jordan 12/08/2017
Bartleby, o Escrivão, de Herman Melville é um dos personagens mais estranhos, cômicos e indiferentes que jamais vimos ou de que ouvimos falar. Um dia, resolve não seguir mais ordens: "Prefiro não fazer!". O próprio narrador não o conhece, não o acessa, nao o entende e, talvez por isso, busca falar sobre esse homem "palidamente limpo, tristemente respeitável, incuravelmente pobre." Um obstáculo, uma parede em um beco sem saída na qual o narrador advogado e chefe bate constantemente, e a cada tentativa fracassada, transita entre a culpa e a revolta. Porque qualquer contato, qualquer vontade de arrancar alguma fagulha de raiva, alguma palavra de desespero, alguma explicação trivial "era o mesmo que tentar fazer fogo esfregando os nós dos dedos numa barra de sabão". Bartleby é uma ausência extremamente presente, que movimenta todos a sua volta, menos a si mesmo. Muitos dizem sobre o seu suicídio silencioso, já que o ?prefiro não? é quase um lavar de mãos, que nos comunica um desinvestimento das coisas, da vida, de ser. Apesar disso, prefiro entendê-lo, se isso é possível, como alguém que retira-se da labuta, das competições do mercado, dá massante rotina, adotando um certo modo de vida solitário e crítico, o qual ainda não produziu nenhum fruto maduro que justificasse seu isolamento. Conforme Deleuze (2011), o escrivão instaura uma tentativa de resistência, traça uma fórmula que enlouquece o mundo, esgota e torce a linguagem, cava uma zona de indeterminação, produz vazio na língua, não recusa mas também não aceita, avança e retrocede nesse avanço: "Ser enquanto ser. Se ele dissesse não, se ele dissesse sim, seria rapidamente vencido, considerado inútil, não sobreviveria." A sociedade, é certo, não gosta muito disso; aquele que resolve caminhar sozinho acusa o mundo inteiro; declara que ninguém serve para sua companhia. Talvez ele seja louco, o demente, o depressivo, o psicótico, mas como saber sem levar também em conta as esquisitices do advogado? Deleuze já dizia, Bartleby não é o doente, mas o médico de uma América doente.