emol.ga 22/05/2024
Ilusões de um coração solitário
"[...]que sejas abençoada pelo momento de deleite e de felicidade que deste a outro coração, solitário e agradecido! Meu Deus! Um minuto inteiro de felicidade! Mas será isso pouco para toda uma vida?"
Para quem conheceu Dostoiévski através de "Os Irmão Karamazov", assim como eu, ler este título parece algo como uma experiência de fanfic ao qual nosso querido Fiódor se rendeu em sua juventude. Entretanto, não se engane, se você conseguir sobrepujar as cenas cômicas e até mesmo enfadonhas que existem no livro, até mesmo de uma teatralidade exagerada em alguns momentos, verá um discurso de amor, solidão e angústia sobre o passar do tempo muito bem escrito.
Através das poucas páginas, acompanhamos a tragicômica história do protagonista, intitulado como "O Sonhador", em seus encontros noturnos com a, na minha opinião, volátil Nástienka para trocar confidências e contarem um pouco da sua vida um para o outro em uma São Petersburgo que parece desaparecer aos poucos. Não vou negar que senti uma certa semelhança com o filme "500 dias com ela", perdão aos leitores de clássicos e aos cinéfilos de plantão pela comparação, mas assim como Tom, o nosso querido Sonhador acha que os seus problemas serão resolvidos através de um relacionamento amoroso e a Nástienka, por sua vez, se assemelha muito a Summer, que desde o início deixa bem explícito as suas intenções; estas, que assim como no filme, são ignoradas pelo protagonista.
O relato é breve assim como o livro e nada complexo apesar dos rococós na fala do protagonista e a narrativa, por sua vez, se resume a uma história de ilusão amorosa de um coração solitário, onde os próprios personagens são os causadores de suas mazelas, seja por idealizarem ou por serem ansiosos demais. Se você é uma pessoa solitária e sonhadora, assim como o protagonista, vai acabar se identificando com alguns dos sentimentos e angustias dele assim como eu mesma fiz em certa instância, da mesma forma que vai vibrar com o mínimo de possibilidade de um possível desfecho entre os dois. Acredito que algumas reflexões do autor sobre solidão, amor e entrega sejam extremamente válidas para os dias atuais, ademais, não consegui retirar nenhuma outra pérola do livro por sua narrativa extremamente específica com costumes e situações bem particulares da época e do lugar onde foram escritos.
Gosto da escrita de Dostoiévski então seria um livro que recomendaria, principalmente para alguém que quer começar a ler alguma obra dele, entretanto, ele não está dentro da minha lista dos preferidos. Porém, mesmo não estando na lista dos melhores livros já lidos, não está na dos piores e assim, não sinto que foi uma perda de tempo lê-lo, até porque, me senti como uma jovem apaixonada do começo ao fim.