Yasvie 22/04/2023
Vá morar no mato. De preferência com uma mulher.
Sempre que um livro me intriga e surpreende de maneira positiva eu fico sem palavras ao escrever sobre. Dias e dias se passam sem que a história saia de minha mente e as palavras se misturem em uma confusão de sentimentos. Recentemente Na Ponta dos Dedos me trouxe todas essas sensações.
Já li varios livros com alguma temática envolvendo sexualidade e gênero antes, mas nenhum onde os personagens principais é que passam pelos seus questionamentos, e principalmente nenhum onde tais persongens não se resumem somente a isso. No geral, essas coisas ficam para os secundários. Mas não dessa vez.
Geralmente costumo fazer um breve resumo sobre o que li, porém nesse caso entendo ser necessário certa ingenuidade sobre o conteúdo para que a experiência seja mais satisfatória. O conhecimento prévio claramente estraga as varias surpresas presentes no livro, o que também significa que é melhor ler sem ter visto antes o filme que se baseia neste livro e também nem mesmo ter total conhecimento da sinopse da história.
Mas, creio que saber que esse livro é sáfico, ou seja, há mulheres apaixonadas por outras mulheres, trás um apego maior na hora de escolher essa história para ler e apreciar, porque essa é uma das partes mais belas por conta da sensibilidade presente na hora da narração dos acontecimentos entre elas. Os sentimentos e ações são tão puras e verdadeiras que aquecem o coração de qualquer um, e principalmente de alguém que sente o mesmo que elas na vida real.
Na primeira parte conhecemos Susan e Maud, duas garotas de mundos diferentes, Maud passa seus dias lendo livros para seu tio, livros esses que só entendemos e conhecemos na segunda parte quando vemos o que realmente se passa naquela casa no ponto de vista da Maud. E Susan, narradora da primeira parte, mora em uma casa com ladrões e contrabandistas, e mesmo sendo a mais correta deles conhece a Maud em uma dessas varias tramas.
O livro se passa no século 19, o que surpreende na temática e no quão bem feito tudo é, nas descrições dos detalhes, as roupas, os acontecimentos, tudo é tão bem realista e fiel que dá a real sensação de que a Maud e a Susan, persongens principais, realmente existiram.
Na ponta dos dedos é um livros completo e complexo, os dois por contar tudo nos detalhes necessários para a compreensão dos acontecimentos e entendimento dos motivos dos persongens para seus atos, que são muitos. Não existe voltas e retornos, tudo segue seu caminho e tudo termina como tem que terminar, sem voltas mirabolantes nem fantasias, vemos a possível realidade e nos sensibilizamos com ela.
Definitivamente, um livro que merece ter mais reconhecimento pelo que entrega e pelo que demonstra, um amor entre duas mulheres em uma época que nem elas mesmas poderiam ter conhecimento disso, enquanto todos estão presos em uma sociedade que diminui e maltrata os mais frágeis, as mulheres e as crianças. E por fim, recebemos o fim sáfico que quase nunca temos, ou seja, um minimamente completo e feliz.