Eduardo 28/07/2020
Situando Stieg Larsson
Pouco foi comentado nas outras resenhas o contexto do livro e do autor. Stieg Larsson é um autor que explana claramente sua orientação ideológica. Suas críticas são explicitas o capitalismo financeiro e suas vilanias de empresários, a relação promiscua entre elite financeira e mídia nacional. Mas, principalmente, sobre a violência de gênero. São temas que se constituem como elementos importantes na construção da história. Dito isso, lendo os dois livros percebi que Stieg, através de suas personagens, fazia críticas recorrentes ao stalinismo, até mesmo respingos da própria relação histórica de conflitos entre Rússia e Suécia. Por outro lado, Larsson claramente desconfiava da social democracia sueca [crítica ao serviço secreto, ao capital especulativo, ao serviço social e a Justiça são os mais evidentes]. Pesquisando sobre a biografia de Larsson no blog "midia antifascista" compreende-se muito melhor a obra e seu pensamento. Primeiro, ele era trotskista. Conheceu sua companheira de vida, Eva Gabrielsson, em uma manifestação contra a guerra do Vietnã. Chegou a participar como treinador de uma companhia de mulheres na Etiópia da Frente de Libertação do Povo Tigré, grupo revolucionário marxista-leninista. Stieg Larsson era revolucionário de um romantismo utópico. Contudo, chagando a década de 1990, muito da paixão revolucionária socialista foi abalada. Tanto pela queda do Muro de Berlim e URSS, como o apregoado “fim da história” (Fukuyama) e consequentemente a vitória do capitalismo. Sendo assim sua atuação e orientação ético-política enfocou no trabalho jornalístico, investigando os grupos nazistas da Suécia. Após ser colunista de uma revista antifascista inglesa usando pseudônimo, Stieg Larsson fundou sua própria revista para denunciar a extrema direita. Ameaças de morte eram corriqueiras, a preocupação de Salander com a sua segurança e privacidade não vieram do nada, Larsson era extremamente cauteloso e vivia em constante vigilância por suas denúncias contra os criminosos nazistas. Conhecer essas nuances é fundamental para compreender a trilogia Millenium. Pois, algumas resenhas queixavam-se de a leitura ser enrolada [pelo contrário, leiturra muito fluída], detalhar-se muito sobre personagens coadjuvantes ou em explicações mais longas. Essas observações fariam sentido se fosse um típico romance policial. Mas não é, Larsson coloca em sua ficção muito de sua vida e de sua missão de desmascarar os piores fenômenos sociais de uma sociedade.
site: https://medium.com/flashback-observat%C3%B3rio-antifascista/stieg-larsson-o-jovem-que-foi-para-%C3%A1frica-lutar-pela-independ%C3%AAncia-de-um-povo-84cd8f9192d7