Lênin 08/10/2023
Entre os anos 1960 e 1970, Moçambique vivia um período histórico turbulento resultado da frustração e agitação entre os cidadãos moçambicanos, contra a forma de administração estrangeira, que defendia os interesses econômicos dos portugueses na região. É nesse cenário de descontentamento anticolonialista que em 1964 o escritor e militante Luís Bernardo Honwana ? que na época tinha apenas 22 anos e cumpria 4 anos de prisão por suas participações em movimentos em prol da independência do seu país ? publicou "Nós matamos o Cão Tinhoso!". A obra é composta por 7 contos que denunciam e transmitem a atmosfera angustiante vivida pelos trabalhadores colonizados e sua famílias. Conto a conto, muda-se a perspectiva de quem sofre com aquela estrutura de dominação e nessa alternância de pontos de vista, sobressai as formas de sofrimento que cada geração vivencia. A narrativa vai desde crianças que não entendem a dominação que seus pais são submetidos, a pais que apesar de cogitarem a hipótese de um mundo melhor para as gerações seguintes, precisam de alguma forma preparar seus miudos para uma realidade onde o silenciamento diante de humilhações e abusos era sobretudo uma estratégia de sobrevivência. O olhar infantil é capaz de expor como a crueldade colonial age na vida dos Moçambicanos desde a sua formação, como no conto "A Mão dos Pretos" onde uma criança ouve do professor que as mãos dos pretos eram claras porque ainda há poucos seculos seus avós andavam com elas apoiadas ao chão, como bichos do mato, sem as exporem ao sol. Obra de reconhecimento internacional, que apesar de pouco conhecida entre os brasileiros, traz a tona sofrimentos comuns ao nosso povo, inclusive na língua que apesar da herança colonial, cria e utiliza seus próprios símbolos, sua própria linguagem e discurso emancipatório.