Dani 08/05/2020Que grande desafio essa leitura! Não sabia bem o que esperar dessa obra, visto que já tinha assistido ao filme (ainda em épocas de Ensino Médio) e sabia a solução do mistério, mas também já tinha visto vários comentários sobre a grandiosidade que é O Nome da Rosa. E tudo o que ouvi se concretizou, mas também a leitura me surpreendeu demais!
As primeiras frases do livro, remetendo à abertura do Evangelho de São João, já mostram a que essa obra veio, bem como a grandíssima temática religiosa que o livro contém, que não deixa de ser muito atual. O mistério que leva aos monges pecadores; a fé forte e bem resolvida de Frei Guilherme; a diferente visão de Deus entre os personagens principais...
Ao mesmo tempo que a narrativa é lenta e rebuscada, passando essa sensação de antiguidade (afinal a história é ambientada num mosteiro no ano de 1327), é também cheia de tensão e suspense, com tramas acontecendo simultaneamente num ritmo acelerado que um romance policial precisa ter. Eu diria que é tudo na medida certa.
Mas ser na medida certa não significa que é uma leitura fácil. Apenas significa que quando já estava cansada com os trechos em latim, ou com as discussões polêmicas entre os franciscanos e os beneditinos (sobre a pobreza de Cristo e se a Igreja deveria adotá-la ou não), o foco da narrativa mudava completamente para a investigação dos assassinatos que vinham acontecendo na abadia.
Os personagens principais, Guilherme de Baskerville e Adso fazem referência à Sherlock Holmes e Dr. Watson. Até mesmo suas características psicológicas e o modo como Adso nos conta sua história são uma grande homenagem ao Detetive e seu companheiro. O modo como o autor demonstra a visão ingênua de Adso, em preto e branco, e como Frei Guilherme é seu guia ao lhe mostrar toda uma variação de tons de cinza que existe no intervalo.
Umberto Eco faz uma grande crítica ao poder que a Igreja tinha na época, mostrando os conflitos existentes dentro da instituição, mas principalmente ao monopólio do conhecimento. Mesmo nos dias atuais, CONHECIMENTO é PODER, e isso fica extremamente claro nessa leitura. A expressão "o nome da rosa" pode ser usada para simbolizar o infinito poder das palavras. No caso, o poder da palavra escrita, que era extremamente censurado.
O livro pode ter várias interpretações: um romance policial que se passa no meio de um mosteiro na idade média; uma carta de amor aos livros; uma ficção histórica religiosa; um manifesto filosófico. E é só agora, um pouco mais de dois meses depois de terminar de ler, e depois de uma extensa pesquisa sobre a obra que consegui organizar as ideias e começar a escrever sobre esse livro tão grandioso.
No tema da filosofia (não sou grande entendedora e preciso estudar muito mais), conheci uma vertente chamada Nominalismo, que creio ser a maior reflexão que o livro nos passa: o conflito que existe entre um nome ou ideia e sua real existência. O livro misterioso que é apresentado apenas como nome/ideia; então descoberta sua existência real; e por fim a destruição do objeto, que o leva de volta a uma ideia expressa apenas por um nome. Que nos leva à frase final do livro: "stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus." (e o que nos resta da rosa, é apenas o nome).
Agora, quanto mais estudo sobre a obra, mais tenho certeza de sua grandiosidade. Pra mim, foi uma leitura desafiadora, me tirou muito da minha zona de conforto, me fez duvidar da minha própria capacidade enquanto leitora, foi extremamente intrigante, mas com certeza pede ainda muitas outras releituras durante a vida para que eu possa começar a compreender seu verdadeiro sentido.