Pabline 28/11/2012
O Nome da Rosa
http://amigasentrelivros.blogspot.com.br/2012/09/resenha-filme-o-nome-da-rosa.html
Já começo essa resenha dizendo: Que livro incrível.
O enredo se desenvolve em 1327, num mosteiro da Itália medieval. Em sete dias, morrem sete monges, de formas estranhas e arrepiantes. Para solucionar esse mistério, contamos com a ajuda de frei Guilherme e seu aprendiz, Adson. Ao mesmo que descobrem os “podres” do mosteiro, descobrem que a biblioteca também esconde seus segredos. Eco, se utiliza de um roteiro policial, no estilo Conan Doyle, que prende o leitor completamente.
Umberto Eco é um estudioso do mundo medieval, então já podem imaginar que essa obra é extremamente rica. Vamos a fundo na mentalidade religiosa, dos costumes de um monteiro e da própria ordem social reinante. Então quem gosta da Idade Media vai se sentir no paraíso ao ler essa obra.
O Nome da Rosa foi inspirado em um manuscrito encontrado, que supostamente foi escrito por um monge que presenciou os acontecimentos. Claro, não é nada muito confirmado, mas Eco desenvolve sua trama como imaginou ter vivido o tal monge. E é pela perspectiva de Adson que nos aventuramos nO Nome da Rosa.
A trama é extremamente rica, acompanhamos esses setes dias que passa a história com afinco, tentando solucionar o problema junto com Guilherme e Adson. Eco criou uma trama tão bem bolada, que o final foi ao mesmo tempo satisfatório - digo isso nas minhas conjecturas do possível assassino - como surpreendente. Gente, genial. Genial.
Peguei esse livro na biblioteca que costumo frequentar. Ele foi impresso em 1992, e está bem surradinho, com as folhas bem amareladas, e com aquele cheirinho de velho, e isso me fez demorar um pouco na leitura porque minha alergia não me deixava passar muito tempo com ele. A obra foi escrita em 1980, mas ao ler você não tem essa impressão, pois ele foi escrito numa linguagem de época – sem falar que há varias citações em latim no livro. Se eu não soubesse de quando é a obra, imaginaria que fora escrito séculos atrás, e ele estar surrado só me fez parecer ainda mais de outra época.
O livro é de uma filosofia incrível. Percebemos mais do que nunca o grande poder que está nas mãos dos cléricos por guardarem tanto conhecimento, por serem praticamente os únicos que sabiam ler e escrever. Quem se interessa por religião, não vai se decepcionar, o livro levanta uns discursos sobre o assunto que lhe faz pensar. Chegou o final e eu fiquei me perguntando se Guilherme quis falar isso, se minha interpretação foi a certa, e se Adson descobre o significado de suas palavras antes não entendidas. Eu desconfio que ele descobriu.
Ousei, pela primeira e última vez na minha vida, uma conclusão teológica: “Mas como pode existir um ser necessário totalmente entretecido de possível? Que diferença há então entre Deus e o caos primigênio? Afirmar a absoluta onipotência de Deus e sua absoluta disponibilidade a respeito de suas próprias escolhas não equivale a demonstrar que Deus não existe?”Guilherme fitou-me sem qualquer sentimento a lhe transparecer no rosto, e disse: “Como pode um sábio continuar comunicando seu saber se respondesse sim à tua pergunta?” Não compreendi o sentido de suas palavras [...] (página 553)
Sem contar que humor britânico de frei Guilherme me tirou boas gargalhadas.
Dei cinco estrelas no skoob e favoritei. Livro fantástico que está mais que indicado.
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“Seria atroz”, disse, “matar um homem para dizer bu-ba-baff!”“Seria atroz”, comentou Guilherme, “matar um homem mesmo para dizer Credo in unum Deum...” (página 131)
“Um furto?”“Um empréstimo, para maior glória do Senhor.”“Se é assim, contai comigo.” (página 168)
“Mesmo uma guerra santa é uma guerra. Por isso talvez não devessem haver guerras santas [...]” (página 182)
[...] porque ninguém neste mundo pode ser obrigado através de suplícios a seguir os preceitos do evangelho, de outro modo aonde iria parar o livre arbítrio no exercício do qual cada um será julgado depois no outro mundo? A igreja pode e deve advertir o herege que ele está saindo da comunidade dos fiéis, mas não pode julga-lo na terra e obriga-lo contra sua vontade. (página 405)