Rafael 06/03/2021
Desconstruindo tipos
Para os amantes de faroeste a experiência com "Os irmãos sisters" pode ser um tanto quanto surpreendente. A obra, sem dúvida alguma, não é mais um dramalhão entre mocinhos e bandidos em que os primeiros sempre são os mais rápidos do oeste em atirar. Para além disso, o livro compõe tipos humanos e reais daquilo que, certamente, poderia ser o caubói, em sua acepção mais ampla, na época. E é justamente isso o que torna sua leitura tão interessante. Isto é, o autor, além de compor um enredo envolvente, ainda se preocupa demasiadamente com a condição humana de suas personagens tornando-as, por isso, bem reais. Ao invés de termos o caubói durão, charmoso, garanhão e vencedor, temos dois irmãos, assassinos profissionais, sem quaisquer características que os tornem fisicamente atraentes e sem muitas qualidades que possam destacá-los entre os seres humanos comuns. Somado a isso, temos toda a sorte de confronto moral e psicológico entre a "profissão" por eles escolhida e sua própria personalidade. Culpa, arrependimento e outros conflitos são abordados de maneira muito interessante. Imagine um assassino profissional que se arrepende de ter escolhido tal profissão, mas que se vê, ao mesmo tempo, impedido de deixá-la. Imagine, ainda, um assassino profissional que tenta, o tempo todo, poupar o maior número de possíveis vítimas. Imagine, por fim, o preço que a vida pode cobrar de uma pessoa por escolher tal caminho. São todas essas nuances que o autor vai abordar de forma magistral nesse livro que merece ser lido. Se cabe o paralelo, a leitura me remeteu, de certo modo, ao filme "Bronco Billy" estrelado por Clint Eastwood, no qual nos deparamos com um caubói artista de circo que, no picadeiro é o conhecido heroi de faroeste que estamos acostumados, mas, na vida real, é um fracassado. A desconstrução de um ideal imaginário sobre a figura do caubói na película e neste livro são geniais e, por isso, merecem nossa atenção.