Ana 12/08/2021
As histórias de todo lugar
Essa é a primeira coletânea de contos que leio de Conceição Evaristo. Embora os contos sejam bem curtinhos (você mal tem tempo de se conectar às personagens e ele sempre parece que acaba abruptamente, assim que chega ao topo da história) todos compartilham um traço bem peculiar: são histórias que você poderia ter ouvido de qualquer mulher, em qualquer lugar.
Se puxar da memória, inclusive, algumas delas vão parecer familiares - mesmo que absurdas. O drama pode ter sido de uma parente, uma conhecida, uma vizinha...o fato de não entrarem em muitos detalhes dá uma dimensão ainda maior de conectividade com o cotidiano. É quase como se você estivesse na sala de alguém, tomando um café com bolo, e ouvindo os dramas de alguém que alguém conhece.
O estilo também é muito coloquial, a linguagem do texto é muito oral. E bem, essa é, afinal, a premissa dessa obra: relatos colhidos de mulheres e transformados em contos.
À primeira vista, pode parecer uma obra simplória, sem grandes atrativos ou grandes épicos, mas é um retrato profundo de dramas comuns a muitas mulheres, particularmente mulheres negras, passando por temas como o machismo, o abandono, a descoberta de si, o sonho e a realização, a solidão, a construção de seu próprio destino e, claro, também o racismo.