Dani do Book Galaxy 21/02/2020Só nos restam as MáquinasConfesso que não me sinto completamente digna de escrever uma resenha sobre essa obra de Asimov - mesmo esta sendo minha segunda leitura do livro. Ainda sinto que em seus contos ainda existem muitas coisas para absorver e muitas questões para refletir, e talvez eu precise de mais algumas releituras.
Aliás, acredito que a leitura desse livro só melhora com o tempo. Afinal, o que mais adoro nesse livro é que ele é, de fato, atemporal.
Escrito na década de 1950, ainda pode ser lido hoje, 60 anos depois, como uma excelente referência do gênero de ficção científica. Mesmo com aquele gostinho um pouco "Os Jetsons" que Asimov empresta nos primeiros contos, percebemos como o autor amadureceu suas ideias e suas perspectivas tecnológicas em relação aos robôs conforme avançamos na linha do tempo.
Ainda sobre seu caráter atemporal, as "Três Leis da Robôtica" de Asimov são tão geniais que podem ser aplicadas a qualquer estudo sobre a robótica e que envolva ética.
Afinal, segundo a própria Susan Calvin, personagem marcante deste livro - atuando como robopsicóloga -, tais leis foram descritas de forma a compor qualquer humano decente - de forma que "seria impossível estabelecer a diferença entre um robô e o melhor dos seres humanos".
A própria relação robô-seres humanos, aliás, é tratada constantemente nos contos desse livro, de forma que nos questionamos o tempo todo em caráter ético, moral e até mesmo religioso. Escritos de forma divertida e rápida, os contos de Asimov, de forma genial, levam o leitor a questionar fé versus lógica, ciência versus religião e humanidade versus robótica.
Dito isso, o ponto em comum que perdura em todos os contos é o dilema mais clássico da ficção científica, sobretudo os que envolvem androides:
Se os robôs foram criados por nós, seres humanos, faz sentido termos "pena" deles ou considerarmos seus sentimentos?
Me questiono isso porque Asimov, em cada conto desse livro incrível, cria situações que despertam a empatia do leitor pelos robôs. Nós sabemos que se tratam de robôs, e os humanos dos contos também - mas, ainda assim, uma parte dentro de nós se compadece e sente pena, empatia e cria sentimentos pelo androide.
Acredito que isso aconteça porque os robôs são criados pelo ser humano e é impossível para um homem criar algo - qualquer coisa que seja - sem transferir um pouco de sua humanidade.
Assim, quando olhamos para um androide, é nossa própria humanidade que nos encara de volta. E Asimov consegue trazer isso de modo suave e, ao mesmo tempo, intenso para os leitores, em uma obra que perdura através do tempo.