Gustota 11/06/2014Tipo O Código Da Vinci, só que bomMuito antes de haver um romance de investigadores culturais que fazem releituras de símbolos de nossa cultura e falam de Santo Graal, havia o Pêndulo de Foucault.
Não vou mentir, ele não é um roteiro emocionante do cinema igual o do Dan Brown e sequer tem albinos assassinos, apesar de ter uns personagens bem excêntricos e perigosos. Mas aqui é mais um romance para estudantes de humanas, especialmente os de história e de filosofia. Esses vão adorar e vão se identificar quando nossos protagonistas vão beber, conspirar e filosofar no bar dos proletários.
Casaubon, nosso protagonista, estuda os templários para o mestrado, sem muita vontade. Em suas jornadas intelectuais e boêmias, esbarra com a dupla Belbo e Diotalevi, dois editores de que não levam seu trabalho nada à sério, aliás, levam super à sério as várias brincadeiras que fazem com os autores e as obras. Não obstante são tempos de efervescência política na Itália dos final dos anos 70, onde pipocam loucos, boêmios, revolucionários e alguns seres esotéricos. Esse é o ambiente perfeito para se duvidar e acreditar em qualquer coisa, da Revolução Socialista ao Santo Graal.
É claro que Casaubon logo se verá trabalhando com Diotalevi e Belbo, num novo filão de livros ocultistas (que vagamente tem a ver com os templários, não é mesmo?) fazendo investigações culturais numa era Pré-Google, namorando brasileiras e conspirando com Diotalevi, Belbo e o computador Abuláfia. No entanto, o problema de se conspirar é que sempre haverá um louco só esperando para acreditar numa conspiração, ou dois...
O sensacional do Umberto Eco é a pura masturbação cultural, onde os papos podem ir de Tom & Jerry, passando pelo altos cânones do ocultismo europeu, à la Crowley e Eliphas Levy, pra falar de futebol, arte sacra, Pato Donald e o que mais couber. E já falei que o Casaubon visita a Bahia? E não é tão estereotipado como você possa imaginar, na verdade foi uma das referências mais legais que já li a respeito de nosso país.
E no final, o livro vai te dar aquela sensação de pensar duas vezes antes de tratar com aquela sutil ironia intelectual e levianidade a crença do próximo. Contar um segredo que o outro queira ouvir é ser escravo e refém da expectativa do iludido.