Vagner46 05/09/2015Desbravando O Tigre de SharpeComo fã do Bernard Cornwell, não poderia deixar de ler Sharpe, uma das séries mais recomendadas do autor e que sai um pouco daquele período medieval que o Cornwell costuma abordar nas suas outras obras. As Aventuras de Sharpe passam-se durante o período das Guerras Napoleônicas, quando Inglaterra e França travavam batalhas ferrenhas para decidir quem era o país mais forte.
O Tigre de Sharpe introduz ao leitor o personagem principal Richard Sharpe, um recruta da Companhia Ligeira do 33º Regimento do rei que encontra-se atualmente na Índia, mais precisamente indo em direção à imponente fortaleza de Seringapatam, uma importante rota de comércio da região, que agora está sob o domínio do famoso sultão Tipu, que recentemente aliou-se aos franceses e agora precisará defender o local com unhas e dentes contra a invasão inglesa.
Pensando em desertar e levar sua amada Mary consigo, Sharpe acaba se envolvendo (infantilmente) em uma briga com o sargento Hakeswill, seu superior, e é condenado a levar 2.000 chicotadas (morte certa), punição essa que acaba não sendo totalmente feita, pois Sharpe é convocado pelo alto escalão e recebe uma missão urgente: infiltrar-se na fortaleza de Seringapatam e encontrar um espião escocês que tem informações extremamente úteis ao exército inglês, que precisa derrubar logo a fortaleza, pois as monções estão chegando e podem atrapalhar muito o seu avanço.
"Era por causa disso que pensava tanto em abutres. Estava pensando que queria fugir, mas que não queria servir de comida para os abutres. Não queria ser capturado. Essa era a regra número um do exército, e a única que importava. Porque se você fosse apanhado os bastardos ou açoitavam-no até a morte ou reorganizavam suas costelas com balas de mosquete. E, de um jeito ou de outro, os abutres esbaldavam-se."
Hakeswill acaba sendo o grande vilão desse livro, fazendo de tudo para que Sharpe se ferre e seja expulso do exército/morto. O sargento acaba sendo um homem de humor extremo, mas de uma vontade maior ainda de acabar com a alegria dos homens. Dei algumas risadas com ele durante a leitura, mas na maior parte do tempo senti um ódio extremo e vontade de espancá-lo. hauhuahua
Narrado em 3ª pessoa por vários pontos de visto, mas principalmente o de Sharpe, essa obra começa com um ritmo bem cadenciado, apresentando ao leitor os vários personagens que integram o lado inglês e o lado do sultão Tipu, enquanto vamos nos acostumando com o vocabulário particular da época, principalmente no que se relaciona ao arsenal, como baionetas, alabardas, mosquetes e assim por diante. Tudo muito bem feito, afinal, Cornwell é um autor mestre em ficção histórica, mesmo que alguns acontecimentos narrados não sejam verídicos, onde Cornwell tomou uma certa liberdade para criá-los e tornar O Tigre de Sharpe uma ótima leitura sobre o período desbravado.
Quando eu pensava que o ritmo iria manter-se até o final, eis que novas perspectivas aparecem, começamos a entender as motivações dos personagens, principalmente Tipu, um homem a ser admirado até mesmo por seus inimigos, além das relações meio conturbadas que os muçulmanos e os hindus têm um com o outro, ameaçando o destino dos milhares de habitantes de Seringapatam.
E é dentro da fortaleza que Sharpe mostra o seu grande potencial como soldado, tomando decisões arriscadas e muitas vezes contradizendo um de seus próprios superiores, o que pode ser entendido inicialmente como um sinal de rebeldia, mas revela aos outros a sua excelente visão estratégica.
"Seus homens uivavam com ele. Estavam contagiados pela loucura de Baird. Nesse momento, enraivecidos pelo calor inclemente e embriagados pela araca e pelo rum bebido durante a longa espera nas trincheiras, os casacas vermelhas eram deuses da guerra. Ofertavam morte com impunidade, enquanto desciam uma muralha ensanguentada seguindo um escocês enlouquecido. Baird conquistaria esta cidade ou morreria em sua poeira."
Inicialmente focando mais nas estratégias nas estratégicas militares do que no desenvolvimento dos personagens, temos aqui uma boa opção para quem gosta do tema e quer algo agradável de se ler.
As partes finais de O Tigre de Sharpe são excelentes, com uma tensão crescendo envolvendo o destino de Richard Sharpe e seus companheiros mais próximos, todos ao alcance de Tipu, um líder militar que é reconhecido até hoje quando se fala sobre o período das Guerras Napoleônicas, sem contar que os seus famosos tigres estão presentes na narrativa, com um papel de grande destaque.
As Aventuras de Sharpe é uma série composta por mais de 20 livros, sendo que, lá fora, eles foram lançados em ordem não-cronológica, diferentemente daqui do Brasil, onde a editora Record resolveu publicá-los na ordem cronológica, o que eu imagino ser uma decisão que faz mais sentido.
Certamente lerei os volumes seguintes, pois Sharpe é um personagem característico de Cornwell, com muitas qualidades e vários defeitos, mas impossível de não gostar. E que venha o próximo!
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