Kelly Brandão 29/01/2019
É difícil explicar o que não tem explicação, o que só entendemos ao sentir.
Esta história me virou do avesso, remexeu meus órgãos, fez com que eu ficasse nauseada, quebrada e ao mesmo tempo me permitiu sentir a beleza da paixão e do amor verdadeiro, amor de amigos, de irmãos, de pais, mas principalmente o amor de mãe. A linha tênue que uma mãe percorre ao longo de sua maior tarefa e as pisadas em falsos, pois ninguém é perfeito, é a temática principal deste livro.
Me vi completamente envolvida com a história nas primeiras páginas. A história começa com Lexi em mais uma tentativa de adaptação em um lar adotivo, uma criança com uma história de vida muito triste e trágica que infelizmente não é nada incomum. Negligênciada pela mãe viciada em drogas, Lexi não teve nunca um momento real de felicidade ao lado de sua mãe. A cada novo lar a mãe retornava pedindo perdão por tudo e acabando com as esperanças de uma vida normal para Lexi, ela já não acreditava mais que seria capaz de encontrar um lugar pra chamar de seu, uma família para chamar de sua.
as este fardo começa a ficar mais leve quando sua assistente social descobre um parente consanguíneo, tia de sua agora falecida mãe, que está mais do que disposta a recebe-la em seu lar. E é aí que Lexi começa de fato a viver.
A tia já é uma senhora, com poucos recursos, vivendo de aluguel em um trailer, mas instantâneamente Lex já se sente parte de algo, pois percebe os esforços de sua tia para deixá-la confortável. Nunca ninguém havia tido gestos tão diretamente relacionados a ela, e a emoção vem à tona: o amor pela tia chega junto ao medo da rejeição.
Ela é tão jovem,14 anos e já leva consigo cicatrizes terríveis. O primeiro de aula dia de aula muda tudo, além de ganhar um presente da tia, coisa que ela nunca tinha ganhado de ninguém, Lexi faz amizade com outra garota. Mia, que assim como Lexi, é tímida e de poucos ou nenhum amigo, e que tem sofrido bastante com os dilemas da puberdade. a identificação das duas é imediata e Mia já a convida para ir a sua casa.
Mia é gêmea de Zach, um belo rapaz ao qual Lexi não consegue esquecer dos belos olhos verdes desde o primeiro momento em que eles a encararam. O primeiro contato dos dois foi estranho, mas eletrizante.
Mia, Zach e Lexi rapidamente se tornam amigos inseparáveis, a atração se faz presente e Zach e Lexi começam a namorar.
Os gêmeos são filhos de Jude e Miles, ela uma dona de casa, ele um médico bem sucedido. Após sofrer três abortos, Jude foi finalmente agraciada com a tão sonhada gravidez. As perdas anteriores a tornaram uma mãe excessivamente zelosa, isso e o fato de ter tido problemas com a mãe em sua infância. Perdeu o pai muito cedo, tinha apenas 7 anos, e a mãe aos poucos também se fez ausente, vivenciando a maneira dela o luto e tentando manter de pé a galeria de artes que abriu junto com o marido. Só não percebia que, enquanto os negócios cresciam sua casa ruía.
Jude sempre controlou tudo em relação aos filhos, e agora com a proximidade da faculdade, suas preocupações eram redobradas. Muitas festas regadas a álcool e cheias de jovem irresponsáveis, a escolha da melhor faculdade e a inevitável mudança dos filhos.
É nesta família que Lexi tem a melhor experiência de sua vida, se sente em casa, acolhida, parte de uma família. Mas uma escolha errada muda tudo. E de quem seria a culpa?
A culpa é um fardo que todos vão carregar por muitos anos.
Esta história fala sobre sentimentos, toca fundo em a lê. É difícil não se apegar, eu como mãe me vi encurralada em diversas situações. A cada situação errada, a cada pisada em falso, meu corpo reagia. Me vi algumas vezes, noutras desejei fazer igual e tentei não julgar até descobrir todos os fatos. Os personagens são muito reais, humanos, falhos e isto deixa a história absurdamente encantadora. A história nos mostra que, por mais que tentemos, jamais teremos o controle de tudo. A vida é para ser vivida, não meticulosamente programada. Todos estamos inevitavelmente fadados a fracassar algumas vezes, não há como evoluir sem antes deixar para trás algo de nós. Esta foi uma das melhores leituras que fiz neste início de ano, trouxe a tona várias sensações, boas e ruins, e eu amei sentir cada uma delas.
Ao ler este livro, esteja preparado para se emocionar com esta incrível história de amor, amizade, perdão e recomeços. Vem chorar comigo.
" O papel da mãe é proteger os filhos, quer eles queiram, quer não."
"O preço de ser franca com os filhos era muitas vezes ficar sabendo de coisas que seria melhor não saber. Acreditava que os pais tinham duas escolhas: exigir sinceridade e lidar com verdades indesejáveis ou enfiar a cabeça na terra e aceitar as mentiras."