Danika 03/04/2017O caminho para casa"[...] Isto era ser adulto? Podar o sonhos em nome da praticidade?"
A palavra mais forte e de mais importância desse livro é o perdão. Esse ato que pode parecer tão trivial detém uma força que só quem realmente vive a palavra é capaz de entender a intensidade que ela carrega. Nunca mais um livro tinha me abalado tanto, tinha explorado tanto os sentimentos de forma crua, dura, mas de uma beleza sincera e sem tamanho. Kristin Hannah fala, através de palavras, sobre o bem precioso da vida e a força do Ser humano.
"Ela está de pé na curva fechada da Estrada da Noite"
Uma mãe que deu tudo de si, toda sua atenção e sua vida dedicada a cuidar dos seus filhos, os gêmeos Zach e Mia, sempre se sentiu realizada, sempre soube ser a força deles, e os amava acima de qualquer coisa. Zach, o popular, Mia a quieta e carente. Até que Lexi, uma adolescente que já sofreu tanto na vida, vivendo em lares temporários por quase toda a vida, devido a uma mãe ex-presidiária e viciada, surge e se torna a melhor amiga de Mia, a terceira pessoa a formar esse círculo de amizade na qual eles julgavam ser eternas. E Jude, como a pessoa maravilhosa que era, sempre deu todo apoio a essa amizade. A diferença social é levantada durante o livro, as oportunidades e privilégios que os gêmeos tinham em comparação a Lexi são imensas. Até o amor de mãe, que lhe foi negado, que ela nunca realmente conheceu até ver Jude com os filhos. O amor que surge ao conhecer Zach, a carência constante de Mia e a nova vida que surgia à sua frente, ajudou Lexi a enfrentar suas dores passadas e descobrir que ela ainda podia amar e ser amada.
“Lexi sentiu a insegurança se dissolver. Ou, mais precisamente, se fundir à de Mia e se transformar em outra coisa qualquer. Elas eram parecidas. Era um absurdo, mas ela, que não tinha nada, era como aquela menina que tinha tudo.”
Jude era uma mãe coruja e Super protetora, quase neurótica com a vida dos gêmeos. E embora ela fizesse todo o possível para que eles não fizessem nada de errado, algumas situações na vida de qualquer um nos impõe escolhas, e nem sempre tomamos a certa. É quando uma tragédia se abate em cima de todos, algo que muda tudo, que leva a cada um deles a se recolher na própria dor, na própria culpa. E é por ali que o leitor começa a chorar e não para mais. Não é um livro tranquilo, embora seja de fácil leitura, ele é denso porque contém uma carga de sentimento muito pesada, muito crua. A autora consegue explorar a dor em cada um de uma forma muito particular e com sinceridade. Nos vemos entre eles, compartilhamos dos pesares, da trágica decisão, da vida de cada um deles. Os personagens foram muito bem criados, cada qual com sua história, sua bagagem de vida, seus receios e desejos, o que os tornam extremamente reais aos nossos olhos. Poderia ser nosso vizinho, você, eu.
"Jude sabia o que precisava fazer, o que todos estavam esperando que ela fizesse. Preferiria arrancar o próprio coração. Mas não tinha escolha."
Enquanto ela nos aproxima ainda mais dos personagens, a autora tece uma teia de acontecimentos que só nos levam a mais lágrimas. Porém, como eu sou chorona mesmo, talvez seja só eu sendo eu mesma e você não chore tanto assim. Mas ela aborda os sentimentos com uma delicadeza tão grande que não sei como não se comover. É uma história sobre família, sobre amor mas, sobretudo sobre perdão e a cura que se pode ter através dele. A esperança de que dias melhores virão tenta marcar presença mas sempre carregado de mágoas. É uma batalha individual de cada personagem para aceitar que todo mundo erra e que devemos perdoar aqueles que amamos, assim como nós mesmos.
"[...] Era isso que todas aquelas pessoas que pregavam o pensamento positivo não compreendiam: há coisas que nunca podem ser recuperadas."
"O problema é que ela acreditava. Não sabia em certo em que acreditava. Seria em Deus? Na bondade? Em si própria? Ela não tinha uma resposta. Só sabia que acreditava profundamente que, se fizesse a coisa certa, se sempre agisse da melhor maneira, assumisse a responsabilidade pelos próprios erros e tivesse uma vida baseada na moral, acabaria bem. Não seria igual à mãe."
Eu já me perdi em muito do que queria poder dizer desse livro, mas eu o amei demais pra conseguir por tudo de forma simples. É uma obra linda, que fala sobre coisas reais, sobre pessoas reais, aborda temas comuns e situações do nosso dia a dia. Mas trabalha com esmero o sentimento de cada um, abre um leque com nossos mais secretos pensamentos e nos faz enxergar tudo de forma intensa; a força que ganhamos quando decidimos perdoar e seguir em frente, quando a esperança é o que nos motiva a manter de pé, e como alcançamos isso. O livro é dividido em duas partes, a primeira, é mais para conhecimento da história e dos personagens, as decisões e o resultado delas. A parte dois é a lição que fica, as experiências vividas por cada um nesse novo momento em que se encontram. O livro tem um começo tranquilo, e embora as carências e exageros nos cuidado me fizessem fazer careta de 'desnecessário', eles servem pra amplificar as personalidades de cada um.
"Lexi não sabia como aliviar essas emoções sem fazer promessas impossíveis. Alguns finais simplesmente não podiam ser como nos sonhos. Tudo o que podia fazer era criar novas memórias, se despedir e esperar um futuro melhor."
Eu ainda nunca tinha lido nada da Kristen e me deparo com essa obra maravilhosa. Estou perdidamente apaixonada e só quero ter o privilégio de ler mais dela. Adorei a mudança da capa, embora a antiga tenha uns tons lindos, essa demonstra mais do livro, a questão de fragilidade da vida, do quanto podemos ser sensíveis apesar de toda a proteção da qual nos cercamos. A diagramação simples e uma revisão impecável. Já não vejo a hora de poder ler outras obras dela. Recomendo sim. Recomendo muito!
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http://www.garotaselivros.com/2017/03/o-caminho-para-casa-kristin-hannah.html