Caioliveiriano 28/06/2009
As Relíquias Potterianas
Quando a série de livros Harry Potter alcançou sucesso editorial sem precedentes, todos começaram a questionar se as obras, escritas pela escocesa Joanne Kathleen Rowling, tinham valor literário real. O último livro da série, Harry Potter e as Relíquias da Morte, traz de volta à baila esse questionamento, junto com o frenesi gerado por ser o derradeiro da saga.
Na trama, o bruxo chega à idade adulta, e assim tem de resolver os mistérios que cercam as Horcruxes (objetos que devem ser destruídos para que seu arquiinimigo, Voldemort, possa ser morto) sozinho, sem a ajuda de seu falecido mentor, Dumbledore. Durante sua tortuosa jornada, Harry perde companheiros de batalha, é traído por quem menos esperava, e finalmente encontra respostas para as diversas perguntas que ele (e os leitores) estava procurando.
Mais do que uma alegoria sobre a chegada da idade adulta, Rowling entrega seu melhor trabalho até aqui, e concebe uma obra que lida com os temas da perda e da morte de maneira realista e madura, não obstante seu público majoritariamente infanto-juvenil. Sua prosa também evolui em relação à construção de seus personagens. Harry Potter torna-se realmente complexo e pujante; os coadjuvantes principais, Ron e Hermione, mesmo relegados a um segundo plano devido à importância narrativa que o protagonista adquire, não são meros adereços e tornam-se também mais profundos.
O epítome dessa evolução, no entanto, é Severo Snape. Mesmo em uma pequena participação, só no ato final do livro, o eterno desafeto de Harry ganha outra dimensão ao ter sua história finalmente revelada. Além de despertar emoção nos leitores com aquele que talvez seja seu personagem mais controverso, Rowling, mesmo que em poucas páginas, consegue torná-lo esférico e vital para a trama.
Mesmo não sendo um trabalho de ourivesaria literário, Harry Potter e as Relíquias da Morte é relevante, ainda que seja apenas pelo fato de incutir o prazer da leitura em seus consumidores.
Não cabe aqui, obviamente, revelar nenhum segredo do aguardado final. Basta dizer que a autora deve agradar boa parte dos fãs e irritar outra, mas o faz de maneira consistente ao que anunciara. Na verdade, não importa se Harry Potter vive ou morre quando todos chegarem à ultima página; ele está eternizado, pronto para ser descoberto por novas e novas gerações de leitores.