Angelica Brezel 01/12/2012Encantador!Só pelo título do livro já dá para se ter uma ideia de que se trata de uma leitura diferenciada.
A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbey, é mais um livro que entrou para os meus favoritos!
No início, eu estava achando meio chatinho... Mas, após alguns capítulos, a leitura se tornou viciante!
A história é narrada por duas personagens diferentes e inusitadas: Renée Michel e Paloma.
Renée Michel é uma senhora de 54 anos, que trabalha como zeladora em um prédio chique de Paris.
Renée é aparentemente uma típica zeladora... Baixinha, gordinha, ranzinza e fechada com as pessoas. Ela mora no térreo e é viúva. Divide o seu apartamento apenas com o seu gato Leon.
Até aí tudo bem... Mas o que ninguém imagina é que por trás dessa aparência de uma simples zeladora, há um admiradora das letras e das artes.
Renée é uma amante de livros, principalmente dos clássicos e os dos grandes filósofos.
Ela não resiste a uma bela pintura na parede e se emociona ao visitar o Louvre. O seu romance preferido é o de um escritor russo chamado Liev Tolstói, o seu filme preferido é japonês, As Irmãs Munakata, e a sua flor preferida é a camélia.
Por trás de uma zeladora, de aparência rude e solitária, existe uma mulher de grande requinte. Como diz Paloma, ela possui a elegância do ouriço:
“Por fora é crivada de espinhos, uma verdadeira fortaleza, mas tenho a intuição de que dentro é tão simplesmente requintada quanto aos ouriços, que são uns bichinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes.” Frase dita pela personagem Paloma
Renée possui apenas uma amiga que se chama Manuela.
Manuela trabalha como faxineira em um dos apartamentos chiques do prédio e todas as tardes toma chá com Renée para contar as novidades do dia.
Ao contrário de Reneé, Manuela não possui requinte algum, mas tem um coração de ouro e uma alegria contagiante!
Paralelamente aos capítulos narrados por Reneé, temos os capítulos narrados por Paloma.
Paloma é uma menina de 12 anos que planeja se suicidar em seu aniversário e colocar fogo no apartamento em que mora. O.O
Paloma, assim como Renée, não é o que parece... Por trás da aparência de uma simples pré-adolescente em crise existencial, existe uma grande pensadora.
Ela questiona a todo o momento os motivos pelos quais valem a pena nos mantermos vivos e isso nos remete à reflexão durante a leitura. Além disso, também é uma amante das letras:
“Ai dos pobres de espírito, que não conhecem o transe nem a beleza da língua.” Paloma
Paloma mora em um dos apartamentos do prédio com a sua família. Mora com sua mãe, que é uma pessoa problemática, dependente de antidepressivos, sua irmã que estuda filosofia e é neurótica por limpeza e o seu pai que costuma manter-se neutro diante as confusões familiares. Paloma o rotula como covarde.
As passagens em que vivenciamos o cotidiano de Paloma são divertidas, pois a família dela é bem doidinha...
Também me diverti com Renée e com suas tiradas irônicas lotadas de inteligência.
No decorrer da trama, vamos conhecendo todos os moradores do prédio e eles são peculiares.
É impossível você não se identificar com nenhum dos personagens durante a história, pois todos são singulares e muito bem trabalhados.
Eu simplesmente me apaixonei por Renée, me identifiquei bastante com o seu jeito de pensar:
“Há sempre a via da facilidade, embora eu repugne tomá-la. Não tenho filhos, não assisto televisão, não acredito em Deus, e são esses todos os sendeiros que os homens pegam para que a vida lhes seja mais fácil. Os filhos ajudam a diferir a dolorosa tarefa de enfrentar a si mesmo, e depois os netos que se virem. A televisão distrai da extenuante necessidade de construir projetos com base no nada de nossas existências frívolas; embaindo os olhos, ela livra o espírito da grande obra do destino. Deus, enfim, acalma nossos temores de mamíferos e a insuportável perspectiva de que nossos prazeres um dia chegam ao fim. Assim, sem futuro nem descendência, sem pixels para embrutecer a cósmica consciência do absurdo, creio poder dizer que não escolhi a vida da facilidade.” Renée Michel
A narrativa da autora é muito gostosa! Você não consegue desgrudar do livro enquanto não chega ao fim. E, quando as histórias das duas personagens - Reneé e Paloma - finalmente se cruzam, a obra se torna emocionante.
Os capítulos narrados por Renée parecem poesia, são encantadores!
O fim do livro é comovente, chorei pacas!
Enfim, é uma leitura gostosa demais!
Se você gosta de livros sensíveis e com um teor reflexivo, fica aí a dica!