bobbie 13/08/2020
Pelo sempre no nunca
Escrever sobre A elegância do ouriço é extremamente complicado, e fazê-lo com a leviandade de preencher uma resenha aqui beira a heresia. Começo pela trama: dois narradores nos contam a história: Paloma, uma menina de 12 anos, superdotada, rica, cuja mente privilegiada busca incessantemente o sentido da vida, sob o preço de desistir e tirar a própria vida no aniversário de 13 anos; Renée, viúva, 54 anos, concierge do edifício onde vive Paloma, um edifício que abriga apenas a nata da sociedade parisiense. Renée, contrariando seu status social, é uma mulher autodidata, que conhece a fundo arte, cinema, literatura. Contudo, devido a sua posição de pobre e proletária, ela se esforça ao máximo para manter-se incógnita aos olhos dos seus empregadores, numa autoidentificação vergonhosa às avessas: tem vergonha por ser culta e subserviente. A vida das duas muda radicalmente quando seus caminhos se cruzam, em função da chegada de um novo morador. O romance é profundo, filosófico, complexo. Por vezes, fica difícil fazer a suspensão da descrença e embarcar nas viagens metafísicas da menina de 12 anos. O final, porém, é extremamente tocante e vivo. Por fim, A elegância do ouriço nada mais é do que um livro que nos faz questionar qual o real significado da vida (ou mesmo se há algum significado e se isso deve nos incomodar), se faz algum sentido acreditar que alguns são melhores do que os outros, a ponto de justificar as diferenças de classes, se faz sentido se preocupar com sentido. Afinal, o que vale a pena? Se existe uma resposta, ela é: leia este romance.