Andressa1007 10/12/2014A Elegância do Ouriço de Muriel BarberyUma concierge isolada durante vinte e sete anos dentro de um edíficio parisiense e uma garota de doze anos prestes a fazer aniversário mudaram minha vida duas vezes. Na primeira, assistindo ao filme Le Hèrrison, quando não fazia ideia de que era uma adaptação da obra de Muriel Barbery e na segunda, ao ler a obra, com muitos detalhes que não apareceram no filme e, no entanto, enriqueceram mais ainda minha relação com essas duas personagens apaixonantes.
Nada me faz mais feliz do que imaginar que sim, um ser humano tão jovem pode começar a refletir aspectos da vida que, teoricamente, ele nem deveria supor que existam. Li algumas críticas negativas sobre A Elegância do Ouriço (Companhia das Letras, 2008) relatando que seria praticamente impossível uma menina tão jovem pensar a respeito da morte, da diferença de classes, da ignorância e de tantas outras facetas da vida.
Eu, que aos trezes anos já era uma "filósofa em constituição", digo que sim, é possível e digo mais. Para tal posicionamento diante da vida é preciso uma única qualidade seja qual for a idade que se tenha: sensibilidade. Paloma Josse usa de sua sensibilidade a favor da inteligência e olha ao redor com a profundidade que muitos, avançados em idade e alienação, tantas vezes não têm. Critica tanto sua família como a humanidade como um todo, reavalia as atitudes dos adultos como acha que eles mesmos deveriam reavaliar, escreve nos diários aquilo que não tem voz para dizer e aprende consigo mesma a não ser tão cruel e intolerante diante daquilo que não pode mudar.
Por outro lado, nossa concierge Renée, que tanto relutou contra sua própria natureza culta, que tanto se rebaixou diante das diferenças sociais, que tanto abdicou de suas próprias possibilidades por achar que elas nem mesmo existiam, começa a entender que a vida é maior que todas as convenções e encontra na amizade de Paloma e de Kakuro os primeiros sinais de acolhimento e reconhecimento. Dentro da literatura, arte, cinema e filosofia havia consolo e companhia e, durante anos, foi tudo o que ela teve como alimento e distração, mas ao voltar a se relacionar com o mundo do outro, Renée volta a se sentir no próprio mundo.
A Elegância do Ouriço é uma obra difícil, a narrativa é muitas vezes complicada, necessita atenção e talvez até um dicionário. Mas se você tiver paciência ou talvez, a tal da sensibilidade, vai provar de uma história incomum e vai notar que, enquanto vivemos nossos problemas no nosso mundinho de sempre, outras pessoas estão por aí refletindo talvez com uma capacidade que nós mesmos não tenhamos e outras podem sofrer com a indiferença que nós mesmos nunca sofremos. Portanto, se você não puder se colocar no lugar do outro essa menina de doze e essa mulher de cinquenta e quatro não farão a menor diferença na sua vida.
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