Marcus 05/02/2022
"I once had a girl // Or should I say she once had me"
Não me lembro da última vez que fiquei tão dividido durante e após uma leitura como com "Norwegian Wood". Quando o livro começa, o protagonista com 38 anos, ao ouvir a música que dá nome à história tocando no avião, começa a se lembrar de uma parte de sua vida marcada por ela, das pessoas que estavam com ele, dos conflitos que tinha e das coisas que sentia, e da distância que ele se encontra daquele seu passado e de tudo que permaneceu por lá. Esse início já me deixou muito interessado, sabendo que seria um romance de formação. Conforme a história avança e o narrador compartilha suas memórias, o livro se desenvolve de duas formas: uma muito mal executada e confusa e outra brilhante e sensível.
Toru, vivendo em Tóquio com seus 19 anos, lida com o luto após perder seu melhor amigo pouco mais de um ano antes, enquanto também vê seus últimos anos da adolescência perdidos. É uma pena que como uma história o livro seja uma bagunça; os personagens não passam de conceitos criados para representar aquela parte da vida do protagonista e os diálogos pareçam mais monólogos do que conversas reais. Ainda assim, o livro captura de um jeito muito cuidadoso os sentimentos e conflitos da transição de um adolescente para um adulto: ao mesmo tempo que ama seu passado, apesar de inalcançável e cada vez mais doloroso, marcado pela morte e a saudade, também se encontra atraído pelo futuro e a vida, começa a se apegar também a ele apesar de não poder fazê-lo sem deixar o outro para trás, refugia-se em um estilo de vida que gostaria mas não realmente se identifica, se decepciona consigo mesmo e se sente sozinho, enquanto tudo que gostaria por perto lhe escapa, ao mesmo tempo que é puxado pelas responsabilidades e inevitabilidades de envelhecer, buscando na sua nova vida um sentimento que não sabe bem onde ou se irá algum dia encontrar.