Ronaldo.Ruiz 26/04/2023
"Conhecimento é poder"
Seja para objetivos nobres, como evitar que a civilização volte à barbárie, ou para fins questionáveis, tal qual detê-lo para subjugar outros povos. Esse velho ditado permeia o romance "Fundação", do escritor Isaac Asimov, nascido na Rússia e naturalizado norte-americano. Chamado também pelos fãs de "Bom Doutor" e "Pai dos Robôs".
Publicada pela editora Aleph, "Fundação" é o primeiro livro de uma trilogia escrita nos anos 1950. Mais tarde, na década de 1980, a série ainda ganharia outros quatro volumes. Os três primeiros livros foram eleitos em 1966 a melhor série de ficção científica e fantasia de todos os tempos, desbancando nada mais, nada menos, que O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien e Barsoom de Edgar Rice Burroughs.
A primeira obra foi publicada em partes na lendária revista pulp Astoundig Science Fiction. Para se ter uma ideia de sua importância, a trilogia inspirou outros clássicos da ficção científica, como Duna e Star Wars. Recentemente, a Apple TV+ adaptou o romance em uma série de sucesso que, infelizmente, ainda não assisti.
PSICO-HISTÓRIA
A história de "Fundação" se passa a milhares de anos no futuro, numa época em que a galáxia é governada por um Império composto por 25 milhões de planetas habitados. Somente em Trantor, planeta que é capital do Império Galáctico, vivem 40 bilhões de pessoas.
A humanidade se esqueceu até mesmo de onde veio. Os estudiosos supõem que os seres humanos surgiram em algum lugar perto de Sirius, Sol e Alpha Centauri. A expansão do Império Galáctico foi possível em muito por causa da tecnologia de viagens espaciais, chamada Salto, que pode levar uma pessoa de um ponto da galáxia a outro em pouco tempo.
Porém, após mais de 10 mil anos de soberania do Império Galáctico, um cientista chamado Hari Seldon começa a apontar sua ruína. Para isso, ele utiliza um método que me deixou fascinado chamado Psico-História. A Psico-História é um ramo da matemática capaz de prever o futuro das civilizações, baseado nas probabilidades de reações de conglomerados humanos a estímulos sociais e econômicos, excluindo-se aí ações individuais.
Segundo Seldon, em 300 anos o Império cairá. A divulgação de suas ideias causa sérios problemas a ele, por serem consideradas perigosas. Seldon então é preso e levado a julgamento. No entanto, apesar da queda inevitável, ele afirma diante do tribunal que tem um plano para reduzir o período de barbárie subsequente de 30 mil anos para "apenas" um milênio. Em seguida, o Império deverá ser reerguido.
A ideia de Seldon é a criar uma Fundação, a qual será responsável pela elaboração de uma Enciclopédia Galáctica, contendo todo conhecimento produzido pela humanidade, a fim de que ele não se perca completamente e se torne um alicerce para a restauração do Império Galáctico.
Temendo que Seldon possa estar certo, as autoridades do Império decidem exilá-lo em um planeta pobre em recurso nos limites da galáxia. Lá, longe de Trantor, ele e seu grupo de cientistas poderão desenvolver a tal da Fundação.
Mas Seldon sabia que isso poderia acontecer. Na verdade, isso fazia parte de seus planos. O fato é que a criação da Enciclopédia Galáctica foi só uma fachada para sua verdadeira estratégia para salvar a humanidade da destruição.
A queda do Império realmente começa quando os planetas da periferia da galáxia, praticamente esquecidos pelo Império, começam a se rebelar, se transformando em reinos independentes, porém, caracterizados pela falta de ciência e civilização.
'AIN, VAI FALAR DE POLÍTICA?'
"Fundação" tem muitas tramas políticas e reviravoltas de bastidores. Muitos desses acontecimentos são revelados em vários diálogos entre os personagens, que deixam a leitura mais leve e fluente.
O tema do imperialismo está presente em suas páginas, principalmente, a ideia de que todo império, por mais poderoso e longevo que seja, um dia vai desmoronar, geralmente, provocando destruição, miséria e mortes. É. A História sempre se repete. Vale lembrar que Asimov se inspirou na obra "Declínio e Queda do Império Romano" de Edward Gibbon para criar a série Fundação.
O autor retrata as várias formas como o imperialismo age para conquistar suas colônias. No caso da Fundação, primeiro a dominação de outros planetas se dá por meio da religião, que detém o conhecimento científico. Para ser introduzida nos demais reinos, a Fundação transformou a ciência em uma seita religiosa. Depois, o controle dos outros povos ocorre através do poder tecnológico e econômico.
CONCISÃO
Embora Asimov seja um escritor de hard sci-fi, a leitura não é difícil. Seu estilo é claro e bastante conciso, sem parágrafos ou capítulos extensos. Em pouco mais de 200 páginas, são narrados mais de 150 anos desde o início da Fundação.
A sensação é de que tudo acontece muito rápido, até porque a leitura leve do romance nos faz querer devorá-lo o mais rápido possível. Por outro lado, não dá muito para se apegar aos personagens. Apesar de terem uma personalidade marcante e desejos bem definidos, que ficam bastante claros nos diálogos, eles vêm e vão depressa, o que me lembrou muito outro clássico da ficção científica "O Fim da Infância" de Arthur C. Clarke.
Aliás, a galeria de personagens é extensa. Além de Seldon, os destaques vão para o primeiro prefeito de Terminus, Salvor Hardin, e para o primeiro dos Príncipes Mercadores, Hober Mallow.
Como já havia dito, existem muitos diálogos, que achei naturais e nos dão informações sobre passado, presente e explicam conceitos. Há momentos de grande tensão, como o ataque de Anacreon à Fundação e o julgamento de Hober Mallow. As expectativas são realçadas também por trechos da Enciclopédia Galáctica antes de cada uma das cinco partes, que antecipam um pouco o que vai acontecer, e os cliffhangers no fim dos capítulos.
Gostei ainda da construção de mundo da Fundação: as características dos planetas, suas tecnologias e cultura.
Já estou ansioso para ler o segundo volume: "Fundação e Império".
site: https://marcenarialiteraria.art.blog/2023/04/26/resenha-15-fundacao-de-isaac-asimov/