Klaus 28/10/2022
Decadência poética pós-moderna
Em anos de leitura, já tive contato com vários livros razoáveis e alguns poucos ruins, mas nunca havia encontrado um insuportável. "Um Útero É do Tamanho de um Punho" conseguiu a façanha de ser o primeiro livro que parei de ler, e olha que não terminar um livro é algo sério para mim.
Li, horrorizado, aquilo que considero a poesia de pior qualidade que já vi em toda a minha vida. São poemas morosos e enfadonhos desprovidos de qualquer recurso estilístico ou figura de linguagem. Não espere rima, métrica, aliteração, assonância, metáfora, musicalidade, jogos de palavras ou trocadilhos, pois você não encontrará nada disso aqui. O que encontrará em abundância são desabafos altamente vitimistas que parecem ter vindo de uma pessoa extremamente complexada e descontente com sua vida e com sua própria identidade. Aliás, por falar nisso, a autora insiste em enveredar por caminhos identitários, o que confere ao livro um caráter antipático, impossível de ser apreciado por quem não compartilha dessa mesma identidade. Em alguns momentos, percebe-se até certa misandria camuflada, por mais que a autora tente não a deixar tão evidente. Em resumo, são obras pífias, vergonhosamente apresentadas ao público como "poesia". Mas então como o livro ficou famoso e chegou a ser considerado um "clássico contemporâneo" por alguns especialistas?
Bem, nas últimas décadas, tem-se visto uma forte tendência na arte pós-moderna: glorificar o artista e sua intenção em vez de sua obra. Isso significa que o conteúdo da obra pouco importa desde que o artista em si seja marcado por alguma característica tida como "em voga" naquele momento. Sendo Angélica Freitas uma lésbica feminista, não é de se estranhar que, numa época em que o feminismo e o movimento LGBT estejam em alta, a autora seja considerada "pop", e reside aí o único motivo pelo seu sucesso: ela é conveniente na atual conjuntura político-ideológica.
Um dos maiores lemas da expressão artística é "ars gratia artis". A expressão latina quer dizer "a arte pela arte", no sentido de que a arte SE justifica por si própria, e nada além. A justificativa da arte não deve estar em algo exterior a ela, mas sim em algo intrínseco e inerente ao próprio fazer artístico. A arte que é feita somente para servir a um propósito prático, quer seja social ou político, é frágil e fugaz. Ela não tem substância e é incapaz de se sustentar, estando meramente atrelada a um contexto histórico que em breve deixará de ser relevante.
Justamente por esses motivos, os textos de Angélica Freitas, norteados pela militância e pela intenção de chocar como forma de provocação ao "status quo", não convencem. Não vi nenhum mérito artístico em sua obra e certamente não a considero uma poetisa, ainda mais quando lembro que nosso país já teve poetas do mais alto calibre, tais como Paulo Leminski, Cecília Meireles, Mário Quintana, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, entre tantos outros.