Ivan 12/09/2021
Uma viagem pela ciência e pela mente
Publicada originalmente em 1961 pelo escritor polonês Stanislaw Lem, a obra é referência no gênero Ficção Científica. Solaris nos presenteia com um tipo de história que pode ser desenvolvida e debatida em seus mais diversos aspectos, sejam eles científicos, psicológicos ou filosóficos.
Solaris é um planeta peculiar que orbita dois sóis e é todo coberto por um oceano. Este oceano é um imenso ser vivo, provavelmente inteligente. Toda uma ciência foi criada para estudar o planeta: a “solarística”. Uma estação flutuante foi construída para ajudar os pesquisadores.
O livro traz a história do cientista Kris Kelvin, psicólogo que vai ao planeta Solaris para estudar o oceano vivo. Mas ao chegar na estação espacial, Kelvin encontra colegas de trabalho hostis e amedrontados. Logo ele descobre que esses respeitados cientistas estão sendo perturbados por estranhas aparições, que também começam a afetar sua própria percepção. O que ele vê são suas memórias mais obscuras e reprimidas, materializadas por obra de alguma misteriosa força atuante no planeta.
As aparições têm corpo físico e conversam, ainda que de maneira confusa. São projeções de lembranças, de coisas reprimidas e guardadas na mente dos cientistas da estação. Portanto, cada um tem uma aparição ligada à sua própria história. Apesar de todo o mistério, a única aparição que conhecemos de fato é a da antiga namorada de Kris, chamada Harey.
O mote principal da obra é uma ideia de que as diferenças entre o ser humano e formas de vida alienígenas podem ser tão profundas que conceitos básicos para a civilização terrestre não poderiam ser aprendidos e interpretados. O livro também aborda aspectos psicológicos dos personagens, já que o ponto focal da história se dá com base nisso.
Solaris apresenta uma história complexa, apesar de a trama transcorrer num curto período e sob o viés de um único personagem. Ela é apresentada em primeira pessoa. Apresenta questões importantes como: o que a humanidade busca no espaço? Que sentido estamos dispostos a encarar como resultado dessa busca? Até que ponto essa busca vai compensar nossa falta de autoconhecimento? E o ápice da trama é discussão filosófica que oscila entre a fé absoluta e o niilismo mais cru possível.
O livro é envolvente desde o começo, e o mistério do planeta, associado às experiências perturbadoras do narrador quanto à aparição de Harey e ao fato de que seus companheiros parecerem estar tramando contra ele. A leitura tem boa dose de suspense e mistério. Mas não dá para dizer que é fácil ler Solaris. Uma parte do livro se dedica a às explicações dos fenômenos que ocorrem em Solaris. Algumas pessoas acharão estas explicações sobre “solarística” chatas e cansativas, mas elas são necessárias para entender a dinâmica dos estudos sobre o planeta e quão pouco os cientistas o compreendem.
É impossível passar por ela sem refletir sobre nosso lugar no universo e todas as maravilhas e horrores que podem estar ao aguardo da humanidade lá fora. O final não oferece todas as respostas, e me deixou desejando uma continuação (que infelizmente não existe).
Uma ficção científica bem complexa, assustadora e imprevisível, que vai mexer com os sentimentos do leitor. Obviamente não é uma leitura que eu recomendo a todos, talvez seja necessário o “timing” certo para tanto. Ainda assim, apesar das ressalvas, é um livro que gostei. Quem se aventura na leitura, recomendo que tenham em mente que é um livro de 1961 e que estejam preparados para essas partes mais descritivas, assim vão aproveitar melhor a leitura.