Luan 30/03/2018
Um dos melhores livros do John Boyne, sensível e objetivo em seu tema
Gosto de livros que tem seus objetivos claros quando eles para isso se destinam. Diversas vezes me deparo com livros que "querem dizer isso ou aquilo" mas no fim dele a mensagem não ficou tão clara ou não foi passada da melhor maneira. Com O pacifista, de John Boyne, o que acontece é que ele acerta totalmente no alvo. O livro tem um claro objetivo, já mostrado em sua sinopse, e que se desenvolve do jeito que deveria ser para tratar sobre aquele tema. E o que temos no fim dele é um resultado muito positivo, e isso sem levantar em conta o desenvolvimento literário - ou seja, os acontecimentos, já que é um livro bastante triste e de emoções fortes.
O pacifista conta a história de Tristan Sadler em dois momentos de sua vida. Uma delas, aos 17 anos, enquanto atuou como soldado na Grande Guerra. O segundo momento, já com 21 anos, quando vai de Londres para Norwich, entregar algumas cartas à irmã de Will Bancroft, que esteve no campo de batalha junto dele. Conforme o desenvolvimento acontece, o leitor vai sabendo porque as duas coisas são narradas. Na guerra, Will e Tristan foram grandes companheiros. Mas as cartas são, na verdade, um pretexto para ele revelar um segredo que já não suporta guardar.
A sinopse, aparentemente simples, esconde uma trama profunda e dolorosa. O livro oscila seus capítulos entre o presente, quando Tristan está com 21 anos, e o passado, quando ele e Will estão na Grande Guerra. Cada capítulo tem sua importância e relevância, mas é nas cenas narradas no campo de treinamento e já no campo de batalha que O pacifista conquista o leitor e mostra um John Boyne afiado como poucas vezes na arte de contar uma história. O livro, é verdade, não me arrebatou, mas é impossível que alguém passe indiferente a ele e a todos os temas que o autor apresentou nesta obra tão bem construídas.
Quase tudo deu certo em O pacifista. Os personagens são muito bem desenvolvidos e têm muito carisma, o que ajuda o leitor a se identificar com vários deles. O desenvolvimento dos acontecimentos sem que o protagonista seja um herói da história mostra o cuidado que o autor teve ao construir uma história que busca flertar o máximo que pode com a realidade. Nada soa forçado ou fora da realidade. O texto de John Boyne está pontualíssimo. Creio que dos livros que li, é a melhor escrita dele. Os diálogos são cirúrgicos, densos, fortes e naturais.
Não lembro de grandes defeitos na história. Um ou outro momento que a história perde um pouco o ritmo, mas isso é ínfimo perto da grande qualidade e fluidez que o livro tem. O mais interessante no desenvolvimento de O pacifista é que a atmosfera é de tristeza desde o início. Todos os problemas postos o leitor de cara da identifica, todos os assuntos que o autor quer debater são claros, mas tudo isso constrói uma trama que tem um ar de tristeza e dor. E isso dá pro leitor uma sensação de que algo não vai terminar bem, de forma muito pior do que possa parecer. E isso acontece.
De prima, a impressão é que se trata apenas de mais uma história de guerra. Mas ao dar uma chance, o leitor vai encontrar uma trama muito mais profunda. Temas atuais, respeito às diferenças, são tratadas de forma sensível e necessária. De longe, dos livros de Boyne que eu já, este é o melhor. A escrita, como já disse, está precisa e pontual. Não parece o mesmo autor de outros livros dele que já li – mesma sensação de vários outros leitores. Mas isso não é uma reclamação, já que sou fã das histórias dele – bem, nem todas. Apesar de intensamente triste, é um livro necessário de várias formas e com qualidade sem igual.