Bia 17/08/2017
Texto Crítico
A obra Apologia da História, ou oficio do Historiador, é um livro escrito pelo historiador March Bloch, que foi criador da revista das Annales, junto com Lucien Febvre, que viria a ser tornar a escola das “Anneles” , nesse livro não concluído, devido a morte do autor na segunda guerra mundial, se tornou a bíblia de todo pesquisador da história, devido ao fato que revolucionou a histografia da época, a obra está distribuída em quatro capítulos e o ultimo está inacabado.
Ele inicia com uma pergunta que seu filho fez pra ele “papai então me explica pra que serve a história” (p.41) . A história serve para
“guardar nossa cultura, o ocidente sempre foi histórico destas suas raízes, quanto cristãs, quanto antiga , nossa arte, nossos monumentos literários estão carregados dos ecos do passado, nossos homens de ação trazem incessantemente na boca suas lições reais ou supostas” ( p.43)
Critica a definição de “história é a ciência do passado” porque, não faria sentido, é absurda, entretanto para se estudar e compreender os fatos contemporâneos é necessário que se estude os vestígios do passado, pois os eventos presentes, são influenciados por este , é verdade que os primeiros historiadores “narravam , desordenadamente , acontecimentos cujo único elo era terem se produzido mais ou menos no mesmo momento : os eclipses, as chuvas de granizo , a aparição de espantosos meteoros junto com batalhas , tratados, mortes dos heróis e dos reis” (p.52) .
Segundo March, a história que os historiadores investigam é a que tem haver com a que o ser humano transforma, modifica, não cabe ao historiador estudar a história do sistema solar por exemplo, para ele a história é a ciência que estuda os homens do seu tempo, traz á balia aquele velho questionamento que já gerou muita discursão e polêmica entre os profissionais da área , a história é ciência ou arte e salienta que é ciência, entretanto como analisa fenômenos muito delicados e relativos, cabe ao profissional o poder de problematizar, questionar, discutir, para se chegar a uma “verdade” aceitável.
Salienta que um grande problema para o historiador é que ele obcecado em saber a origem dos eventos, e não só no sentido de inicio dos fatos , mas nas causas que levaram ao fato a ocorrer, por exemplo a origem do sistema feudal, que alguns argumentam ser em Roma e outros ser na Germânia ou explicar qual a origem do cristianismo e tentar esclarecer de como essa religião chegou até os dias atuais.
Bloch enfatiza que outro mal do historiador é julgar os fatos “de modo que em muitos casos o demônio das origens foi talvez uma avatar desse outro satânico inimigo da verdadeira história: a mania do julgamento” (p.58) . Não devemos julgar a opinião ou atitude do outro mesmo que não concordamos como ela, principalmente quando os indivíduos analisados são pessoas do passado, que viviam em uma sociedade diferente da nossa, com hábitos e maneiras de pensar e viver completamente distintas se fizemos isso estamos cometendo o anacronismo, que é o pior pecado do historiador.
Ele faz uma critica assídua a escola positivista, que argumenta que os fatos históricos devem ser precisos, exatos, não podem existir muitas teorias, ou seja, modos de ver, interpretar, o mesmo acontecimento, para os historiares que seguiam a linha de raciocino positivista, existia apenas uma verdade, que deveria ser buscada através das fontes históricas, para os positivistas, só era considerado ciência, aquilo que conseguisse estabelecer “ligações explicativas entre os fenômenos” (p.45) , alguns argumentam que a história não é objetiva , nem tem utilidade, pois aborda o passado, e o passado já passou, outros defendem que é “(...) o produto mais perigoso que a química do celebro já elaborou” (p.45) devido ao fato que o individuo que tem a compreensão dos saberes históricos, vai saber os motivos que levaram a uma sociedade desigual, porque o capitalismo é o sistema dominante em nossa sociedade, vai saber compreender porque a sociedade é preconceituosa com negros, mulheres, e outras minorias sociais , porque ocorreu determinada revolução como a francesa, que influenciou o mundo, com o lema de igualdade, liberdade e fraternidade, entre outros fatores . Ele vai explicando aos poucos ao leitor, que a história é uma ciência em constante movimento , já que vai sempre sendo modificada, que é sim frágil epistemologicamente em alguns aspectos, como o fato de o passado ser amplo e o historiador tem que fragmenta-lo cronologicamente pra estuda-lo, não poder fazer o confronto do relato com o passado, mas pode conforta-lo com outros relatos , entretanto os historiadores estão tentando melhora-la através dos métodos e técnicas, discute também que a História é uma ciência que está na fase da infância, ou seja, que ela ainda vai evoluir muito, através do trabalho árduo dos historiadores.
No segundo capitulo intitulado “Observação histórica” ele salienta, que não se pode buscar a verdade absoluta sobre o passado, pois ele já passou, não podemos estar lá , e sim tentar chegar a algo próximo da “verdade”, através do vestígios históricos que são fragmentos do que restou do passado. Trata da questão que deve-se usar fontes não escritas como a oralidade e adotar alguns métodos da arqueologia para se fazer a histografia, ele “diz” que o trabalho do historiador se assemelha a de um investigador criminal, que não presenciou o crime, mas deve reconstitua-lo através dos vestígios e é preciso entender que o historiador é parcial diante das fontes, por isso vão surgir muitas teorias acerca do mesmo fato.
No terceiro capitulo nomeado “ A critica” , enfatiza que o historiador deve usar de métodos para analisar aos fontes, que não devem confiar completamente nelas, pois podem ser falsificadas, e por isso temos a obrigação de fazer o confronto com os outras fontes, pra averiguar se elas dizem a verdade, deve existir um “conflito” entre fonte e historiador. Enfatiza, que as fontes, podem ser escritas em outros períodos, que não condizem com o momento que está sendo estudando pelo historiador.
“ Um documento , que se diz do século XII, está escrito sobre o papel , ao passo, que todos os que todos os originas desta época até agora encontrados o são pergaminhos ; a forma das letras aparece ai bem diferente do desenho observado em outros documentos da mesma data; a língua abunda em palavras e figuras de estilo estranhas ao uso unânime” . (p.111)
Bloch salienta que a ideia do historiador de trabalhar com probabilidades de um fato ocorrer é algo que pertence ao futuro , e se fizermos isso com o passado, vai se tornar um jogo metafisico . “Qual a probabilidade de Napoleão nascer? De Adolf Hitler, soldado de 1914, escapar as balas francesas. Não é proibido diverte-se com tais perguntas (p.117) , se Hitler tivesse sido morto pelos franceses , existiria o nazismo, se Napoleão tivesse invadido á Rússia no verão a teria destruído, bem essas perguntas não saberemos responder.
Enfatiza que na História, uma mesma palavra, pode ter mais de um significado como o termo “feudalismo” , que pode ser tratar de um sistema econômico e social como um período histórico, critica a questão da preocupação excessiva em datações, devemos sim se preocupar sim com datas, entretanto devemos se preocupar mais com questões culturais, como as pessoas viviam, pensam e se relacionavam. Enfatiza que uma civilização sempre vai herdar traços culturais e econômicos de outras, como ocorreu, com a civilização romana que herdou da grega. No quarto e último capitulo, sem titulo ele vai criticar o positivo, que tinha o intuito de eliminar a ideia da causa, da ciência histórica, sendo que todas as ciências tem esse aspecto . “Querendo ou não, todo físico , todo biólogo pensa através de “por que” e “porque”. Os historiadores não podem escapar a essa lei comum do espirito” (p.156) Ele explica que toda ciência, tem que analisar as causas que o deram origem ao evento, um médico por exemplo tem que analisar, as causas que deram origem a terminada doença, o mesmo tem que fazer o historiador, ele tem que buscar as causas de por que os eventos históricos ocorreram, por exemplo os motivos que deram origem a segunda guerra mundial, ele também traz a tona a questão que deve existir a interdisciplinaridade entre outras disciplinas, como a psicologia, a filosofia, a sociologia, a economia, entre outras áreas para se ter um melhor entendimento dos fatos históricos .