roblesz_ 12/07/2020
Sem palavras
Apesar de eu ter demorado um certo tempo para ler esse livro (estava numa ressaca literária e não estava tendo muito foco), era sempre uma questão de acabar lendo 70 páginas numa sentada só e ficar maravilhado com as tantas questões trazidas a tona (ainda mais no começo do livro que apresenta argumentos muito bons sobre criação em cativeiro e a moralidade da vida animal nos zoológicos) e a intimidade que surge entre o leitor e o Piscine era espetacular. Havia momentos que, mesmo estando eu muito longe de estar numa situação parecida, era possível compreender suas ações e decisões em momentos de delírio e desespero, como se pudesse ver a mim mesmo ali, perdido no mar, faminto, com sede e acompanhado nada mais nada menos do que um tigre de bengala.
É possível sentir apreço e gratidão pelo tigre junto do personagem, que sem o animal, não teria conseguido suportar as dificuldades da vida no mar, mesmo que a única ajuda vinda do tigre fosse os seu olhos poderosos e seu tamanho amedrontador que buscavam Piscine de volta do mundo da fadiga e melancolia para a vida atenta e o instinto de sobrevivência.
Mesmo que muitas partes possam acabar sendo meio maçantes e longas descrições do dia a dia de Pi em alto mar apareçam frequentemente (muitas páginas descrevendo seu modo de comer carne de tartaruga, descrevendo a magnitude de Richard Parker etc ), acredito que todas esses pequenos atos e descrições puderam me levar a compreender um pouquinho mais de quem é o Piscine, o modo que sua vida mudou drasticamente e as mudanças que teve que fazer sendo um adolescente indiano vegetariano, cristão, muçulmano e hindu em alto mar.
Por fim, recomendo bastante essa leitura. O personagem descreve tudo de um jeito bem humorado, como se nem ele pudesse acreditar nas situações um tanto cômicas que aconteciam ao longo do livro e seria definitivamente o tipo de pessoa que eu gostaria de passar horas e horas conversando sobre qualquer aspecto religioso, científico ou humano do mundo.