Samuel.Araujo 24/05/2017
Fantástico!
O livro narra os encontros fictícios entre o filósofo Friedrich Nietzsche e o médico Josef Breuer. Nietzsche apresenta um quadro de insônia, dor de cabeça, abuso de remédios, pensamentos suicidas e desespero - um sintoma que traz desestímulo à vida. Além disso, sente um enorme ressentimento pela traição e abandono de seus dois melhores amigos, Paul Rée e Lou Salomé, sua paixão avassaladora. O pensador alemão leva um vida nômade de isolamento total que carrega o niilismo, o ateísmo e a liberdade das regras sociais como premissas de sua conduta. Ainda tratado como um grande prodígio da filosofia, o escritor, durante os diálogos do livro, utiliza preceitos de obras como 'A gaia ciência' e 'Humano, demasiado humano' para criar uma nova moral essencialmente concreta, real e livre de explicações sobrenaturais, místicas e religiosas. 'Torna-te quem tu és' designa uma busca, através da filosofia, do autoconhecimento para fornecer significado às grandes questões existenciais da vida - a morte, o envelhecimento, origens e destinos de nossa espécie.
Por outro lado, Lou Salomé tem conhecimento de um médico austríaco que teve sucesso no tratamento de uma paciente com desespero - e alguns dos sintomas de Nietzsche - através de um método inovador que usa o diálogo para investigar a origem dos sintomas, extinguindo-os completamente. Este médico chama-se Josef Breuer, um profissional de sucesso, casado e pai de cinco filhos, pertencentes a uma família rica da sociedade vienense. Uma vida socialmente perfeita. Entretanto, o intenso contato de Breuer com sua paciente do desespero, Bertha, despertou sentimentos afetivos, eróticos e obcessivos perante a jovem. Tais sensações provocaram uma crise profunda nas relações do médico com sua família e, sobretudo, com sua esposa. Uma falta de sentido da vida, um vazio existencial, uma preocupação diante a velhice, uma vontade de possuir liberdade e escolha próprias, uma sensação de aprisionamento pelas condições que a vida impões. Tudo isso estava aterrorizando a mente e comportamento de Breuer. Então, Lou Salomé convence o médico a tratar o desespero de Nietzsche com sua inovadora técnica.
No início, as tentativas de tratamento esbararram na indiferença, no fechamento e nos argumentos ássidos - e lógicos - de Nietzsche. Sua negação e dificuldade à abertura das relações sociais era evidente. Porém, Breuer, identificando a enxaqueca como um dos possíveis problemas físicos de Nietzsche, forneceu uma proposta derradeira: o médico tratara sua doença fisiológica enquando o filosófo ajudara a entender e resolver seus questionamentos pessoais. Com esse plano, e com a semelhança dos conflitos existenciais de ambos, Breuer objetivava que Nietzsche entendesse sua própria situação através do diálogo do tratamento.
Durante vários encontros, as conversas intensas entre Nietzsche e Breuer mergulharam na obsessão do médico por Bertha - e também, intrinsicamente, na paixão avassaladora do filósofo por Lou. Porém, o filósofo liga essas fixações por mulheres à uma tentativa de desviar o foco da discussão acerca do peso da existência, da velocidade da velhice e da proximidade da morte. Tanto Bertha quanto Lou Salomé eram ilusões que atenderiam os desejos de liberdade, independência e bem-estar que as vidas de Breuer e Nietzsche não continham. Passando por discussões que revelam a necessidade de executar escolhas autônomas, de traçar o próprio destino e de viver a própria vida, a conversa navega pela filosofia libertária de Nietzsche. "Morrer no momento certo", a ideia do "eterno retorno" e "atingir o inimigo certo" contemplam essa corrente intelectual.
Nem o médico nem o filósofo estavam atingindo o inimigo certo. Através de uma experiência hipnótica induzida por Sigmund Freud, Breuer simulou o abandono de toda sua vida em Viena e uma trajetória autônoma buscando seu amor por Bertha. Mas ele não suportou o peso da liberdade! A mera simulação fez escolher definitivamente por sua vida, família e emprego. "A chave para o viver bem é primeiro desejar aquilo que é necessário e, depois, amar aquilo que é desejado".
Da mesma forma, Nietzsche usa o isolamento, o rancor e raiva por Lou como pesos da vida. Após Breuer desconstruir a idealização dela, o filósofo reviu todos os seus medos, preocupações e dificuldades. Aceitando a existência de um amigo, mas escolhendo continuar na solidão de sua missa literária e filosófica.
A trama cíclica não revelou a necessidade de se libertar de tudo e viver um autonomia absoluta. É improvável e insuportável para a capacidade da espécie humana. O importante é atingir o inimigo correto e consumir toda a capacidade de sua vida. Ver os problemas por outras perspectivas. Uma escrita simples, um desenvolvimento que te coloca tanto no papal do médico quanto do paciente e um plot twist incrível. É fantástica a capacidade do autor de conectar histórias reais em uma trama fictícia.
Penso que neste momento, 24/05/2017 19:54, não compreendi diversas ideias do livro. Desejo que minhas experiências futuras me permitam relê-lo e desfrutá-lo de forma mais abrangente.