Mateus Rameh 25/06/2023
Sublime. As duas pontas da história, desencontrada, se entrelaçam ao avesso no último e derradeiro instante, tornados passado, presente e futuro afluentes de um mesmo rio. Vislumbramos pela fresta que Mia Couto nos abre a realidade fantasiosa, a realidade em fuga, os detalhes que nos escapam e que viram insignificantes na torrente final do sonho.
Amarrados, costurados pelo autor, mas ainda preservando sua força particular (fossem páginas ao vento) cada capítulo e cada trecho dentro da história funcionam quase como se fossem contos, um desavisado livro de contos. Toda esquina de paisagem é pretexto para um novo personagem, uma nova e breve história, uma invenção a esmo no seio do mundo. Cada capítulo parecendo apartado do outro, cada história dentro de cada capítulo florescendo seus próprios caminhos, para só no final, no último parágrafo, um fio onírico, derradeiro e desencontrado, a enlaçar em infinito não somente a história, mas o leitor e Muidinga, colocados a um só tempo no mesmo lugar, no mesmo entendimento e revelação.