Ludmilla Silva 02/05/2022"To really be a nerd you had to prefer fictional worlds to the real one."Que experiência incrível foi ler esse livro, sério. É um tipo de livro que eu amaria se tivesse lido dez anos atrás e é um livro que eu amei mesmo lendo hoje, e isso aconteceu justamente por ser um livro – como o próprio nome já diz – que fala sobre a fangirl e essa experiência incrível de amar e ser obcecada com algum elemento. Eu fui uma fangirl voraz na minha adolescência e continuo sendo até hoje, mesmo em menor escala, assim foi incrível me ver representada na história através de Cath.
A Cath é completamente apaixonada pela série de livros de Simon Snow e isso significa que ela tem todos os livros, pôsteres, fez cosplays, tem uma comunidade online e ainda escreve e lê fanfics na internet. Essa é a verdadeira rotina de uma fangirl e é incrível demais, apenas quem vivenciou uma paixão assim sabe como é. Amei muito como no livro a autora demonstra essa vergonha que muitas fãs têm, não por ser vergonhosa aquela paixão e sim pela forma como as pessoas que não são do nicho as veem e, como demonstrou ao mesmo tempo, como aquele universo ficcional é importante e significativo para aqueles que estão nele. É lindo, fiquei com o coração bem quentinho.
Gostei também do contraste que existe entre Cath e sua irmã gêmea, Wren. A Wren é aquela menina que quer vivenciar o máximo possível na universidade, mesmo que isso signifique que ela tenha que ignorar tudo e todos que já foram importantes para ela, em contraponto a Cath tem muito medo de mudanças, ela está na universidade, mas ainda está presa aquela sua vida passada. Achei bem interessante a autora demonstrar que está tudo bem ser uma fã no nível de Cath mesmo estando na universidade, não tem nada de errado nisso, a não ser que você não consiga conciliar o mundo real com o ficcional.
As diferenças entre as irmãs são bastante significativas, principalmente por elas serem gêmeas. Confesso que não sou, nem fui a maior fã de Wren, então eu passava muito pano para a Cath, mas no final eu meio que entendia às duas e entendi também que a atitude extrema de ambas (de farrear até morrer e não estar aberta a um novo mundo de possibilidades) é bastante errado, e as coisas só vão começar a dar certo se elas contrabalancearem seus gostos com essa nova vida. Parte de mim se ressentia bastante de Wren por basicamente abandonar a irmã dela e parte de mim também queria que a Cath a abandonasse em retribuição, mas confesso que fiquei feliz de isso não ter acontecido e de no final tudo ter ficado bem.
Os personagens secundários são um ponto muito forte nesse livro, o desenvolvimento do Levi, da Reagan e até do pai da Cath são incríveis. Eu me conectei bastante com eles, mesmo alguns não aparecendo tanto; A Reagan é aquela pessoa durona, cheia de escudos e senso de humor sarcástico que parece ser péssima a princípio, mas à medida que vamos a conhecendo entendemos que ela é uma pessoa bastante generosa e preocupada com aqueles que importam. O pai da Cath é aquele pai liberal que ama as filhas e quer que elas estejam bem, mesmo que isso signifique que ele estará bem, mas ele é uma pessoa que também encontra um equilíbrio para sua vida no final do livro.
E Levi, o que dizer de Levi? Ele é exatamente o motivo de nós leitores criarmos uma enorme expectativa para homens, pois apenas queremos que eles sejam como Levi e infelizmente eles não são. O Levi é a personificação de um cara confiante, não-toxico, gentil e atencioso. Ele tem aquele ar de descolado e alheio a tudo, mas é exatamente o contrário. E ele consegue ser um cara incrível não só com a pessoa que ele está se relacionando, mas também com amigos e com quem ele acabou de conhecer. Eu amei como ele achava os hábitos de fangirl da Cath totalmente estranhos, mas à medida que foi a entendendo melhor ele passou a ser bastante compreensivo e apoiador. E o Levi pedindo a Cath para ler fanfic com ele?! Sério, é impossível alguém na vida real chegar no nível do Levi.
Outro ponto que eu amei muito também foi o relacionamento de Cath e Levi, eu confesso que no começo eu estava agoniada tentando entender porque tudo estava andando tão devagar entre eles, mas depois reconheci e entendi ser a única reação possível. Cath era uma pessoa que vivia mais os seus relacionamentos fictícios do que os reais, ela sabia muito bem o que era um relacionamento entre Simon e Baz, mas não fazia ideia de como era um relacionamento com um garoto na vida real, assim se tudo tivesse começado frenético seria algo muito out of character para a personagem. Por isso, por entender quem era a Cath (e por Levi também a entender) eu gostei de como o relacionamento dos dois foi construído bem lenta e gradativamente e de como conseguimos perceber o momento em que ela passou a estar mais confortável com o Levi ao seu lado.
E óbvio eu não poderia deixar de falar da minha parte favorita do livro: as histórias de Simon Snow. Talvez eu seja um pouco suspeita para falar, pois li a trilogia Carry On antes de ler fangirl, então eu já tenho um amor especial por esses personagens, todavia foi incrível ver onde tudo começou e mais incrível ainda perceber o planejamento que a Rainbow Rowell teve para construir o universo de Simon e Watford. Em alguns casos, as autoras só delineariam a história secundária de Simon, porém Rainbow não fez isso, ela basicamente escreveu um livro dentro de outro livro, e os detalhes, e os personagens desse universo foram tão bem desenvolvidos que anos depois rendeu de fato a trilogia Carry On.
Eu amei que em fangirl tivemos o universo canônico de Simon Snow, formado por inúmeros livros e escrito por Gemma T. Leslie e o universo da fanfic escrito por Cath, e o melhor foi que a trilogia escrita por Rainbow foi basicamente uma mistura do melhor desses dois mundos. O fato de haver transcrições das histórias do Simon, fosse a canônica fosse a versão da Cath, foi um detalhe muito interessante que nos fez entender o amor que Cath sentia por esses personagens e nos fez os amar também. Enfim, eu ficava emocionada e feliz toda vez que havia essas histórias extras.
Eu tenho apenas dois pontos para reclamar da história, e nem é reclamar, na verdade, e sim pontuar detalhes que me incomodaram. O primeiro é em relação ao Nick, eu confesso que a forma como a relação dele com a Cath se deteriorou foi muito corrida e estranha para mim, eu gostei muito do modo como ela lidou com ele no final, porém achei os motivos meio distorcidos. Na hora que eles começam a se desentender na biblioteca não fica tão claro que a Cath o ajudou na história, nem que ele “roubou” aquela contribuição dela e nem que ela se importava tanto com aquela história dele a ponto de ficar incomodada. A situação dos dois aconteceu bem rápida e velada, você só entendia por pequenas sutilezas na narração, ficou tudo meio implícito. Eu gostaria que a autora tivesse lidado melhor com isso, talvez se Nick tivesse plagiado mesmo uma história de Cath seria melhor, eu compreenderia mais o receio dela e o fato de a amizade ter acabado tão repentinamente.
E o outro ponto é em relação ao Levi, em algum momento da narrativa ele diz a Cath que não consegue ler livros, artigos ou nada do tipo, que aquilo não funcionava para ele. Na minha interpretação ele claramente tem algo como dislexia ou TDAH, e eu vejo que esse ponto foi utilizado pela autora apenas como uma desculpa para ele se conectar melhor com a Cath e para lerem fanfics junto (algo que eu adorei), porém achei aquele detalhe muito jogado e sem explicação. Eu gostaria que essa história tivesse tido um desdobramento, talvez ele descobrindo seu diagnóstico e contando para a Cath em algum momento da história. Isso não ia mudar em nada o relacionamento dos dois, pelo contrário ia o fortalecer ainda mais, então era um detalhe que eu gostaria de ter visto. De modo geral, esses dois pontos não prejudicam em nada a história, apenas criaram interrogações na minha cabeça.
Por fim, eu queria frisar que não li o livro propriamente dito e sim ouvi o audiobook e foram mais de 12 horas de áudio e a história flui tão bem que pareceu ser apenas 2 horas, logo é um livro muito leve e rápido mesmo sendo um livro grande. Teve tantos detalhes que eu amei e me deixou super alegre que eu não conseguiria descrevê-los aqui, só sei que foi um verdadeiro deleite ler esse livro e eu amei absolutamente tudo a respeito dele, recomendaria um milhão de vezes.