Caroline Gurgel 25/06/2013Humor maestralAntes de mais nada, por que “diachos” as escolas não indicam livros como esse para seus alunos? Bem, voltarei a esse ponto depois.
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O teorema Katherine foi uma surpresa, uma hilariante surpresa. Não que minhas expectativas fossem poucas, estamos falando de John Green, afinal. Mas por ser um YA, eu esperava uma história tipicamente juvenil.
E, bem, é juvenil, absolutamente. No entanto, o que tinha tudo para ser mais um clichê YA – nada, definitivamente nada, contra clichês – se mostrou uma história bem original e incrivelmente divertida.
Colin é um garoto prodígio, aspirante a gênio, que vem desde pequeno, incentivado pelos pais, estudando e se esforçando muito para um dia fazer a diferença no mundo e ser reconhecido. Passa o dia decorando tudo o que vê e lê, fazendo anagramas e construindo frases com eles. Colin não é bom em fazer amigos ou se socializar, mas já teve 19 namoradas e todas se chamavam Katherine. Amigo mesmo, apenas Hassan.
Hassan é O personagem desse livro. Garoto árabe, gordinho e super, mas super engraçado. E, claro, Colin fala árabe e muitas vezes se comunica com o amigo em tal idioma. Hassan, vendo o amigo triste por ter sido dispensado pela XIX Katherine, convence Colin a pegar a estrada, sem rumo. E a partir daí, pode preparar a risada, pois serão muitas.
No meio do caminho descobrem uma cidade chamada Gutshot, em pleno caipira estado do Tennessee, onde conhecem Lindsey (e sua mãe) e se instalam.
Lindsey é uma caipirinha adorável, que jamais teve pretensão de sair de sua cidade e, muito menos, ser reconhecida.
Comece a imaginar dois garotos da gigante e desenvolvida Chicago em meio a um mundo novo, pequeno e caipira, onde todos se conhecem e tudo gira em torno de uma única fábrica, cuja proprietária é a mãe da tal Lindsey.
John Green consegue prender o leitor em uma história sem muitos atrativos e bem simplista, mas divertidíssima. Eu sou do tipo que, no cinema, assistindo uma comédia, rio mais das risadas engraçadas do que da piada em si, ou seja, não sou tão fácil assim para dar gargalhadas. E lhes digo, gargalhei a beça por essas páginas! A sutileza e inteligência do humor é digna de muitos aplausos. Não se trata de piadas ou diálogos intencionalmente engraçados. Eles apenas o são!
A história pode não valer tanto assim, mas a maestria do humor inteligente nos diálogos entre um gordinho árabe, um prodígio nerd e uma caipira é encantadora e faz valer cada estrela.
E, bem, há mais que humor. John Green nos deixa a mensagem de que devemos dar valor aos amigos, apoia-los e ajuda-los. Devemos pensar menos no que os outros querem que façamos e mais no que queremos - sem egocentrismo, claro.
Ah, e para os matemáticos de plantão: podem começar a se deliciar com tantas fórmulas, gráficos e um apêndice feito especialmente para vocês - e por um matemático.
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Voltando a questão dos livros obrigatórios nas escolas. Não consigo entender qual é a do MEC ou de quem quer que sugira os livros adotados nas escolas. Não entendo por que não colocam livros como esse ao invés de paradidáticos estúpidos escritos para gente estúpida. Sério, na boa! Tem uns legais, mas a maioria fazem as crianças correrem para bem longe dos livros. Seria por não ser nacional? Por que não mesclar autores nacionais e estrangeiros? Por que não adotar livros divertidos e prazerosos mesclado com os clássicos de sempre, para começar a despertar o leitor que há dentro dos alunos? Se os clássicos assustam pela linguagem rebuscada, os paradidáticos não tem ajudado muito com suas estórias "pra boi dormir". Enfim, na minha opinião só conseguiremos ter uma população majoritariamente leitora se houver alguma mudança na iniciação a leitura na escola. Livros ruins ou chatos = leitores traumatizados ou, pior, futuros não-leitores.